Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…)
Cismar
Fala-me, anjo de luz! És glorioso
À minha vista na janela à noite
Como divino alado mensageiro
Ao ebrioso olhar dos frouxos
olhos
Do homem, que se ajoelha para
vê-lo,
Quando resvala em preguiçosas
nuvens,
Ou
navega no seio do ar da noite».
Romeu
Ai! Quando de noite, sozinha à
janela
Co’a face na mão te vejo ao luar,
Por que, suspirando, tu sonhas,
donzela?
A noite vai bela,
E a vista desmaia
Ao longe na praia
Do mar!
Por quem essa lágrima orvalha-te
os dedos,
Como água da chuva cheiroso
jasmim?
Na cisma que anjinho te conta
segredos?
Que pálidos medos?
Suave morena,
Acaso tens pena
De mim?
Donzela sombria, na brisa não
sentes
A dor que um suspiro em meus
lábios tremeu?
E a noite, que inspira no seio
dos entes
Os sonhos ardentes,
Não diz-te que a voz
Que
fala-te a sós
Sou eu?
Acorda! Não durmas da cisma no
véu!
Amemos, vivamos, que amor é
sonhar!
Um beijo, donzela! Não ouves? No
céu
A brisa gemeu...
As vagas murmuraram...
As folhas sussurram:
Amar!»
Ai
Jesus!
Ai Jesus! Não vês que gemo,
Que desmaio de paixão
Pelos teus olhos azuis?
Que empalideço, que tremo,
Que me expira o coração?
Ai Jesus!
Que por um olhar, donzela,
Eu poderia morrer
Dos teus olhos pela luz?
Que morte! Que morte bela!
Antes seria viver!
Ai Jesus!
Que por um beijo perdido
Eu de gozo morreria
Em teus níveos seios nus?
Que no oceano dum gemido
Minh’alma se afogaria?
Ai
Jesus!»
Poema de Álvares de Azevedo, in “Lira dos vinte anos”
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