quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Os Pecados de Uma Dama. Bronwyn Scott. « Riordan soubera pintar mais do que um pouco, certa vez. Mas em algum lugar entre aquela época e agora, pintar deixara de ocupar um lugar central na sua vida, para sua grande tristeza e surpresa»

Cortesia de wikipedia e jdact

Maio de 1835. Londres. Abertura oficial da Estação de Festas
«Rumores diziam que Riordan Barrett podia levar uma mulher ao clímax a quatro metros de distância, usando somente os seus olhos. De perto, as possibilidades eram infinitas, assim como as curvas exuberantes do corpo deleitável de lady Meacham. Riordan descansou a mão de leve nas costas da lady em questão, contemplando aquelas possibilidades, enquanto a conduzia através da multidão reunida em Somerset House, para marcar o início da Estação de Festas, com a exposição anual de artes da Royal Academy. Lady Meacham deu-lhe um olhar recatado que não deixava dúvidas de que estava pensando a mesma coisa. Ele sabia o que ela queria, o que todas queriam: que os rumores fossem verdadeiros. Lady Meacham desejava experimentar o prazer que Riordan tinha a reputação de oferecer. Ele, por sua vez, adoraria perder-se no prazer por algum tempo. Era bom nisso..., em se perder em prazeres. Jogos de cartas, apostas, corridas a cavalo, bebida, os vícios usuais de um cavalheiro... Riodan conhecia todos. Não era estranho às seduções das demi-monde ou às camas das viúvas. Ele e as damas sabiam por quê. Prazer era apenas mais uma palavra para escape; um termo menos desesperado. Já havia desespero, e a Estação de Festas apenas acabara de começar. Quando o esplendor dos bailes de Londres e das lindas mulheres perdera o brilho? Riordan reprimiu o pensamento e conduziu lady Meacham para a frente da mais recente obra de Turner: uma descrição do incêndio da Câmara dos Lordes e Câmara dos Comuns, que ocorrera no último Outubro. Se aquilo desse certo, ele passaria a tarde imerso nos charmes voluptuosos de lady Meacham, esparramado na sua cama, esquecendo. Riordan inclinou-se sobre o ouvido de lady Meacham e começou o jogo a sério. Note como o pincel de Turner transmite a energia das chamas; como o uso dos tons de amarelo e vermelho descreve as temperaturas do inferno. O leve toque dos seus dedos no braço dela sugeria que ele estava criando um fogo diferente. O perfume de lady Meacham preencheu as suas narinas com a sua fragrância cara e forte. Ele preferia algo mais doce, mais suave. É especialista em..., ahn..., técnica de pincelada, murmurou lady Meacham, o corpo angulando subtilmente, de modo que os seus seios roçassem a manga do casaco de Riordan, num convite discreto. Sou especialista em muitas coisas, lady Meacham, replicou Riordan num sussurro particular. Talvez devesse chamar-me de Sarah. Ela bateu na manga dele de brincadeira, com o seu leque. Está tão bem informado. Sabe pintar também? Um pouco.
Riordan soubera pintar mais do que um pouco, certa vez. Mas em algum lugar entre aquela época e agora, pintar deixara de ocupar um lugar central na sua vida, para sua grande tristeza e surpresa. Ele não podia lembrar como isso acontecera, apenas que não mais pintava. Lady Meacham... Sarah olhou-o por baixo de cílios longos, um sorriso convencido brincando nos lábios. O que pinta? Aquela conversa estava indo precisamente na direcção que ambos queriam. Riordan tinha a sua resposta pronta. Nus, Sarah. Eu pinto nus. Elas me dizem que isso excita. Lady Meacham deu uma risada rouca diante da indirecta maliciosa, a confirmação final de que estava disposta a abrir mão do Grande Salão superaquecido de Somerset House por um endereço muito mais confortável em Piccadilly, e os seus pincéis. A mão dela permaneceu tempo demais na manga de Riordan, numa comunicação de familiaridade. Não há mesmo um pingo de decência em si, há? Riordan cobriu-lhe a mão enluvada com a sua, a voz baixa e profunda, agora só para ela: nem um pingo, lamento. Os olhos de Sarah se iluminaram diante das possibilidades que a frase invocava, um sorriso tímido na boca beijável. Acho tal qualidade deliciosa num homem, sem dúvida alguma. Ela estava mais do que disposta, e era menos do que um desafio. De alguma maneira, era decepcionante que tivesse sido capturada com tanta facilidade. Entretanto, ele devia sentir-se mais excitado sobre a conquista, mais desejoso. Afinal, Sarah Meacham era um prémio, realmente. O marido dela saíra em viagem com a amante, e fofocas no clube White’s diziam que Sarah se tornara ansiosa para tomar o seu primeiro amante desde o nascimento do filho reserva, no último Outono. Houve apostas sobre quem seria esse amante. Riordan fora à cidade especialmente para ganhar aquela aposta, para o caso de alguém duvidar que não houvesse um osso redimível no seu corpo. Não poderia permitir que pensassem que Riordan Barrett vinha perdendo o seu toque; que o seu irmão, Elliott, enfim lhe colocara algum juízo na cabeça. O destino decretara que Elliott, o herdeiro, devia ser bom, muito bom, e Riordan, o reserva, devia ser mau, muito mau, uma justaposição natural para a bondade do seu irmão amado. Então lá estava ele, mais cedo na cidade, interrompendo uma visita ao seu irmão em Sussex, para fazer sexo com a esposa de outro homem e provar a todos que Riordan Barrett era tão pervertido quanto os rumores reportavam». In Bronwyn Scott, Os Pecados de Uma Dama, 2012, Nikki Poppen, Editora HR, Harlequin, 2013, ISBN 978-853-980-924-0.

Cortesia de EHR/Harlequin/JDACT