segunda-feira, 22 de outubro de 2018

His Sinful Secret. Emma Wildes. «Como disse, eu vou sobreviver. Eu já imaginava, mas isso pressupõe um grave problema para mim»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Diga-me..., o ferimento valeu a pena?, perguntou com exagerada prudência. Não. Ah... Ela deu de ombros enquanto lhe desabotoava a camisa, mas nos seus olhos escuros podia-se ver um lampejo de decepção. Que pena. Resignado, Michael olhou para o corte irregular e inclinou-se para ajudá-la a soltar a camisa rasgada dos ombros. O ferimento, de uns quinze centímetros de comprimento, não tinha bom aspecto, embora supusesse que era todo aquele sangue que fazia com que a aparência do mesmo parecesse pior. Eu me descuidei. Não esperava um ataque naquele momento. Meu suposto informante já havia ido embora fazía um bom tempo. Esta já é a segunda vez. E se o ataque não tinha nada a ver com o seu encontro? Já disse que aquela região é perigosa, principalmente à noite. Antónia soltou a camisa ensanguentada sobre a manta. Ele não me tentou roubar. Porque a sua reacção o surpreendeu. Talvez ele pretendesse matar primeiro, para poder subtrair-lhe o dinheiro sem problemas. Lá fora, no jardim, uma ave nocturna entoava um canto suave e melodioso, em desacordo com a sombria conversa dentro da alcova. Não, eu acredito que os dois acontecimentos estão relacionados, respondeu Michael. O ataque da semana passada foi muito semelhante. Sem aviso prévio, à guisa de emboscada. Eu devia ter previsto isso. A minha intuição costuma ser melhor do que isso. Terei que ficar mais atento. Parecia-me que a coisa estava tranquila demais, e eu perguntei se a nossa presa teria saído do país novamente. Agora já não tenho a certeza. Que desgraça, ele escapou. Mais uma vez.
Quando ela se inclinou à frente, para inspeccionar-lhe o ferimento e limpar o sangue, o cabelo de ébano derramou-se sobre aqueles ombros perfeitos. Ela era de ascendência espanhola, o que se notava pela pele morena e os rasgos chamativos; as faces eram proeminentes e aristocráticas; nariz levemente afilado, e a boca, generosa e de lábios grossos. As curvas exuberantes da sua figura tentariam um santo. Deus sabia que Michael não se encaixava nessa categoria. O robe de Antónia abriu-se um pouco e, mesmo ferido e sangrando, Michael ainda não estava morto, e não conseguiu resistir a admirar aqueles seios redondos e túrgidos, arrematados por escuros mamilos. Ela o excitava? Não; eles já haviam posto fim àquela relação fazia anos. Não obstante, ele continuava sendo homem, e ela era uma mulher muito atraente. Usufruiu do panorama sem se desculpar. Vai sobreviver, sentenciou ela em tom cortante enquanto torcia o pano dentro de uma bacia com água morna. Voltou a pressionar o pano sobre o ponto do ferimento onde ainda brotava sangue. O corte é extenso, mas não muito profundo. Vou pedir a Lawrence para que chame o médico. Não, obrigado. Ela, resmungou, irritada com aquela negativa cortês, mas categórica. Sabia que se ia opor. Isso vai precisar de sutura. Você já viu os meus bordados? Acredite em mim, eu iria deixar outra interessante cicatriz.
Coloque uma ligadura e pronto. Só faltava que corresse o rumor de que o marquês de Longhaven fora apunhalado por um meliante. Chamar a atenção era perigoso. Quanto menos pessoas soubessem, melhor. Antónia colocou as mãos na cintura. Miguel... Pare com isso, por favor. Está muito tarde para discutir. Ela hesitou por um instante, depois negou com a cabeça e ergueu os braços desesperada. Os seus olhos, tão escuros quanto noite sem lua, revelavam rendição. Sei quando sou derrotada, em todo caso. Aprendi com o tempo. Está bem. Como quiser, cabeça dura. Michael a viu entrar no quarto de vestir. Dali a pouco saiu com uma camisola de fino linho. Com uma pequena tesoura, começou a cortá-la em tiras. Em circunstâncias normais, ele teria feito uma piada por receber ligaduras feitas com roupa íntima feminina, mas naquele momento não estava com humor para risadas.
Como disse, eu vou sobreviver. Eu já imaginava, mas isso pressupõe um grave problema para mim. Sentado, deixava-se ser cuidado; ela cobriu o ferimento com um pedaço de tecido enquanto ele olhava compungido para a lareira de mármore ao fundo do quarto. Vou-me casar dentro de dois dias. Terei que inventar algo para me justificar. Antónia olhou-o, com os lábios apertados. Depois pegou uma faixa mais longa do fino tecido branco. Vai mesmo levar isso adiante? Custa-me a acreditar. O quê, o meu casamento? Por quê? Faz meses que estamos formalmente comprometidos. Isso não é próprio de si, Miguel. Eles já haviam tido aquela conversa antes. Ele suspirou resignado. Embora não seja próprio de mim, sim, vou levar isso adiante.  Vai-se casar com alguma menina insípida, recém-saída da escola só porque o seu pai assim o quer?! Eu lhe agradeceria se não chamasse insípida à minha futura esposa. Talvez fosse imaginação sua, mas lhe pareceu que, ao começar a pensar o ferimento, ela apertou com mais força do que o necessário, então proferiu um grunhido de dor. Ela vai matá-lo de tédio. Michael arqueou uma sobrancelha devagar». In Emma Wildes, His Sinful Secret, 2010, Baror International, Random House Mondadori, Megustaleer, 2011, ISBN- 978-840-138-431-8.

Cortesia de Megustaleer/JDACT