Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Mas não era só com eles que
os mercadores contavam. A capacidade de atracção da cidade do Porto, constituída
desde muito cedo como o centro de decisão económica mais relevante do Norte de
Portugal, fazia do seu porto marítimo um lugar bastante frequentado pelos
navios dos ancoradouros vizinhos particularmente nas épocas (sazonais) de maior
movimentação de mercadorias, por exemplo na altura da chegada dos vinhos de
Riba Douro (coincidente com a dos sumagres), com o regresso dos navios
carregados de cereais das mais diversas proveniências, do açúcar da Madeira, de
S. Tomé e, mais tarde, do Brasil. Era fácil para os homens de negócios da
cidade encontrar navios para fretar, do Porto, de Gaia, de Matosinhos, de Leça,
de Azurara ou Vila do Conde. Por poucos que fossem os navios do Porto
integraram-se e participaram activamente nos grandes circuitos do comércio
internacional ombreando, pelo menos em alguns momentos, com arqueações muito mais poderosas. A actividade transportadora
realizava-se a diferentes níveis:
serviços
a
soldo dos mercadores a título individual, por vezes até detentores da
totalidade ou de partes dos navios, no transporte de mercadorias adquiridas na
zona envolvente da cidade (como o pescado, couros, vinhos, azeites, frutas,
sumagres) ou a longa-distancia (têxteis, ferramentas, cereais, açúcar, produtos
de luxo do Mediterraneo);
serviços
de
abastecimento (sobretudo de víveres) por conta da cidade;
serviços
de
transporte contratados por mercadores estrangeiros (em alguns casos, porventura,
agentes estatais) como complemento das suas próprias embarcações, destaque-se a actuação
de
navios portuenses na grande rota que ligava a Flandres à Itália, com inúmeras
sub-rotas como a que percorria todo o mundo aragonês, ou a sua participação nos muitos portos galegos onde contratavam negócios
de monta;
serviços
de
transporte requeridos pelo monarca português em particular após a conquista de
Ceuta (1415), no abastecimento desta cidade e, ao longo do tempo, das cidades e
praças ocupadas no Norte de Africa;
tráficos de interesse
internacional como o açucareiro, regista-se uma
primeira participação no trato madeirense, de seguida
no trato são tomense, e, já no século XVI, no brasileiro, por conta do rei, de
mercadores da urbe e do estrangeiro que motivara contactos de grande interesse
no Norte da Europa e no Levante;
contratação
dos
seus serviços pelas autoridades centrais ou por
simples particulares para o desempenho de um leque de funções que
passaram pelo envio de embaixadas a França,
a
Inglaterra ou a Roma, pelo transporte de peregrinos, por exemplo para Santiago
de Compostela, pela condução de alguns portuenses que no
século XVI entraram na Religião de Malta, no Mediterrâneo, e pelo
transporte de emigrantes para os diferentes domínios do império português.
Contudo, o mar era espaço inseguro,
de grande conflitualidade, propício a predadores e aventureiros em busca de
fortuna a custa de quem se lhes atravessava no caminho. A pirataria, tantas
vezes disfarçada de corsarismo,
fazia-se sentir de forma mais incisiva em determinadas franjas costeiras da
Europa ou em momentos de maior tensão entre estados e regiões interessados na
actividade marítima. Em lugares que proporcionavam abrigos e formas de
camuflagem dos navios agressores, como as abras da Galiza ou algumas
zonas mais recortadas da costa mediterrânica, em pontos de intersecção das grandes rotas de tráfego, podia encontrar-se embarcações de aventureiros do mar emboscadas esperando a
passagem de navios mercantes.
O incremento
da pirataria e do corso vai lado a lado como desenvolvimento da actividade
naval e do comércio marítimo. Entre os factores organizativos mais importantes,
contava-se o sistema de comunicações e de espionagem. Como o mercador, o corsário
tem de estar bem informado. A circulação de notícias ganha particular relevância
e pretende-se que seja cada vez mais rápida. Ela faz-se de variadas formas:
pelo envio de correios por terra ou por mar. Por intermédio de alguém em
quem se confia e se dirige para determinado local. Entre os navios que se
cruzam no mar através de sinais de luzes, de bandeiras ou, quando as condições
de mar o permitem, de viva voz utilizando-se, por vezes, os batéis para levar
novas e mantimentos de uma embarcação para a outra». In Amândio M. Barros, O Porto
contra os Corsários, bolseiro da Fundação
para
a Ciência e Tecnologia, Revista da
Faculdade de Letras, História, Porto,
III Serie, 2000».
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