Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia ao Mestre Hugo Calado
O
castelo de noudar e a defesa do património nacional
As
Culturas
«(…) As culturas possíveis são as
arvenses de sequeiro, folhosas diversas e montado de azinho, sendo que este
último é uma cultura que domina o território entre a confluência do Ardila com
a Ribeira da Murtega, até à fronteira espanhola. Passando a ribeira da Murtega
para Sul, o montado de azinho domina as culturas, existindo uma parte inculta
na curvatura da mesma ribeira, junto da elevação onde se ergue o castelo. No
restante território entre a confluência dos dois cursos de água e a fronteira
luso-espanhola, dominam os montados de azinho, embora as culturas arvenses de
sequeiro e os terrenos incultos também existam, mas em menor número. É uma
paisagem que sofreu algumas alterações durante os últimos noventa anos, devido
à presença humana na zona da raia, o que levou a importantes alterações da
paisagem. Observando a região raiana durante um determinado período de tempo (1892-1982),
e particularmente a zona do castelo de Noudar, vemos que no final do século
XIX, a zona tinha características pastoris, com terrenos de mato ou charnecas,
e mais a Sul, uma grande extensão de montado de azinho. O sobreiro está
presente, embora em menor quantidade.
Mais a oriente, na zona de Moura,
domina o montado de azinho, recrudescendo as pastagens e aumentando o número de
culturas arvenses de sequeiro. Em 1962, na zona entre o rio Ardila e a ribeira
da Murtega, dominam de novo os montados de azinho, incluindo uma pequena porção
de arvenses de sequeiro, mas é a azinheira a cultura dominante.
No entanto, entre esta data e o
ano de 1982, na região Baixo Alentejana, o azinhal com cultura arvense em
sobcoberto foi arrancado, sofrendo o azinho, como consequência, uma redução,
não só isolado, mas em associação com outras espécies. O panorama de culturas
na zona de Noudar mantém-se durante vinte anos sem alterações significativas.
As culturas arvenses de sequeiro
também estiveram presentes entre este último período de vinte anos, cujas
plantações aumentaram no Baixo Alentejo. Entre 1892 e 1982, há mais
desaparecimento de mato, redução das pastagens e é a azinheira que predomina,
embora tivesse sofrido uma redução, convivendo com a cultura do zambujeiro. O
montado de sobro aumenta, e a área de azinhal associado a outras espécies foi
reduzida. O olival tem também um crescimento considerável, embora a área de
olival novo tenha recrudescido nos últimos tempos. Toda esta série de
transformações agrícolas nesta região do Baixo Alentejo, durante noventa anos,
deveu-se a uma tentativa de melhor aproveitamento dos solos, o que veio a
equivaler a uma redução das pastagens, porque a maior parte desta área era
constituída por terrenos em pousio, que posteriormente passaram a ser terrenos
com culturas arvenses, culturas estas que passaram a ocupar mais de um terço da
área cartografada.
Na
maioria da zona Baixo Alentejana, neste período cronológico, houve um intenso
desaparecimento de matos, maior redução das pastagens, e aumento da cultura
arvense, houve, ainda, uma redução do azinhal, bem como das suas associações a
oliveiras e sobreiros, aparecendo agora esta cultura com uma maior associação
aos zambujeiros. O montado de sobro isolado e associado com azinheiras também
aumenta, assim como o eucaliptal, além de um aumento significativo de
albufeiras, que já se notava desde 1962, também devido ao aumento de culturas
regadas e hortas. No entanto, é de salientar a pouca transformação da paisagem
agrícola da zona do castelo de Noudar durante quase um século. Ali estamos
perante uma paisagem pouco susceptível de transformação humana a longo prazo, devido
à fraca qualidade do solo, às condições climatéricas não favoráveis para uma
boa exploração agrícola, actividade económica que nunca foi predominante na
zona, às quais se junta um baixo índice demográfico, e pelo facto que a
principal fonte de rendimento da zona de Noudar ser a pastorícia. Tudo isto
levou à desertificação do sítio do sítio e ao afastamento do mesmo de Barrancos».
In
Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa
Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado
em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras,
Departamento de História, 2007.
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