sábado, 5 de setembro de 2015

Estudo Morfológico da Cidade de São Tomé. Teresa Madeira. «Normalmente os conventos eram instalados fora de portas, próximos do núcleo urbano existente, em locais de fácil acessibilidade, tendo por trás zonas não edificadas. Com estes, também eram implantados hospitais/albergarias»

São Tomé, 1916
Cortesia de wikipedia

«(…) Para M. Teixeira, nas fundações urbanas de finais do século XIII e XIV a ausência de praças urbanas estruturadas era uma das suas características: … em muitas destas novas cidades medievais eram estes terreiros, localizados no interior da cidade mas marginalmente, com relação ao tecido construído, junto às muralhas, que cumpriam originalmente as funções de praça (...). Esses espaços só se viriam a estruturar plenamente como praças nos séculos XV e XVI, associadas à edificação de novos equipamentos religiosos e civis na cidade e ao desenvolvimento de novos conceitos de espaço urbano, ligados à redescoberta da tradição urbana da antiguidade, veiculada pelo Renascimento. Em Portugal, a partir do século XV é frequente encontrar mais do que uma praça em cada cidade. A existência de mais do que uma praça está associada a uma determinada função: há a praça de carácter civil, associada ao edifício da câmara ou a um edifício administrativo ou por vezes ao pelourinho, há a praça religiosa normalmente associada à igreja matriz, a um convento ou à Misericórdia e há a praça ligada ao mercado.

Edifícios Significativos. Edifícios Religiosos e Administrativos
Em relação à cidade portuguesa do período medieval importa referir as construções de maior significado, ou seja, os edifícios cuja função e dimensão lhe conferem importância e significação no tecido urbano. Estes edifícios pelas suas características imprimem à vila ou cidade onde se implantam uma dinâmica própria que permite que esta se desenvolva muitas vezes em função deste tipo de edifícios. Neste período histórico este tipo de edifícios é sobretudo de carácter religioso (igrejas e conventos), havendo muito poucas excepções uma vez que as funções administrativas normalmente se instalavam em torres de muralhas. No caso das igrejas, a sua importância deve-se fundamentalmente ao facto de normalmente darem origem a largos ou terreiros, como anteriormente foi referido, funcionando como polos de atracção no tecido urbano. A sua localização teve um papel preponderante no desenvolvimento das povoações: se por um lado elas constituíam polos de dinamização no tecido existente é também de supor que muitas vezes eram implantadas em locais que viriam a constituir polos de atracção para a futura expansão da malha urbana. Os conventos pertenciam às ordens religiosas e às ordens militares cuja acção social era altamente marcante.
Em termos urbanos, os conventos tinham ainda uma grande importância como reservas e ordenadores do tecido urbano, pois por regra eram dotados de uma cerca para onde cresciam e que parcimoniosamente iam loteando e alugando. Normalmente os conventos eram instalados fora de portas, próximos do núcleo urbano existente, em locais de fácil acessibilidade, tendo por trás zonas não edificadas. Com estes, também eram implantados hospitais/albergarias, com uma importância formal menos acentuada mas com implantação idêntica. Para além das igrejas e dos conventos, as Misericórdias, também de carácter religioso, desempenhavam igualmente um papel estruturador no tecido urbano dos aglomerados urbanos portugueses. No entanto foi só com Manuel I que este tipo de equipamento urbano surgiu associado às novas praças que nessa altura foram estruturadas.

Pontos Defensivos. Fortalezas. Muralhas e Portas
Poucas são as cidades no período medieval que não têm fortalezas, muitas vezes sob a forma de muralhas. A razão primordial da sua edificação é, nesta altura como em épocas anteriores, obviamente de ordem defensiva. Apesar da existência de meios defensivos em períodos anteriores, no período correspondente à reconquista tornou-se indispensável a construção de novas fortalezas. A muralha cercava a vila e normalmente acompanhava o acidentado do terreno sem grandes preocupações de regularidade. Por vezes as muralhas eram acompanhadas de um fosso. A vila comunicava com o exterior através de portas. Segundo Rossa, as muralhas ao serem construídas criavam descontinuidades no tecido urbano quer a nível físico, criando espaços afectos e não afectos à vida urbana, quer a nível de funcionamento sendo necessário pessoas e bens pagarem portagem à entrada das cidades. As portas, por seu turno, eram o elo de ligação entre o espaço urbano e o rural. Por razões defensivas estas impediam as construções no exterior próximo dando, por vezes, origem aos terreiros, largos ou rossios. No interior e também junto à porta é igualmente frequente encontrar-se um largo, espécie de átrio de distribuição». In Teresa Madeira, Urbanismo, Comunicação apresentada no Colóquio Internacional Universo Urbanístico Português, 1415-1822, Coimbra, 1999.

Cortesia de Wikipédia/JDACT