«(…) Para M. Teixeira, nas fundações urbanas de finais do século
XIII e XIV a ausência de praças urbanas estruturadas era uma das suas
características: … em muitas destas novas
cidades medievais eram estes terreiros, localizados no interior da cidade mas
marginalmente, com relação ao tecido construído, junto às muralhas, que
cumpriam originalmente as funções de praça (...). Esses espaços só se
viriam a estruturar plenamente como praças nos séculos XV e XVI, associadas à
edificação de novos equipamentos religiosos e civis na cidade e ao
desenvolvimento de novos conceitos de espaço urbano, ligados à redescoberta da
tradição urbana da antiguidade, veiculada pelo Renascimento. Em Portugal, a
partir do século XV é frequente encontrar mais do que uma praça em cada cidade.
A existência de mais do que uma praça está associada a uma determinada função: há
a praça de carácter civil, associada ao edifício da câmara ou a um edifício
administrativo ou por vezes ao pelourinho, há a praça religiosa normalmente
associada à igreja matriz, a um convento ou à Misericórdia e há a praça ligada
ao mercado.
Edifícios Significativos. Edifícios Religiosos e Administrativos
Em relação à cidade portuguesa
do período medieval importa referir as construções de maior significado, ou
seja, os edifícios cuja função e dimensão lhe conferem importância e significação
no tecido urbano. Estes edifícios pelas suas características imprimem à vila ou
cidade onde se implantam uma dinâmica própria que permite que esta se
desenvolva muitas vezes em função deste tipo de edifícios. Neste período
histórico este tipo de edifícios é sobretudo de carácter religioso (igrejas e
conventos), havendo muito poucas excepções uma vez que as funções
administrativas normalmente se instalavam em torres de muralhas. No caso das
igrejas, a sua importância deve-se fundamentalmente ao facto de normalmente
darem origem a largos ou terreiros, como anteriormente foi referido,
funcionando como polos de atracção no tecido urbano. A sua localização teve um
papel preponderante no desenvolvimento das povoações: se por um lado elas
constituíam polos de dinamização no tecido existente é também de supor que
muitas vezes eram implantadas em locais que viriam a constituir polos de
atracção para a futura expansão da malha urbana. Os conventos pertenciam às
ordens religiosas e às ordens militares cuja acção social era altamente
marcante.
Em termos urbanos, os
conventos tinham ainda uma grande importância como reservas e ordenadores do
tecido urbano, pois por regra eram dotados de uma cerca para onde cresciam e
que parcimoniosamente iam loteando e alugando. Normalmente os conventos eram
instalados fora de portas, próximos do núcleo urbano existente, em locais de
fácil acessibilidade, tendo por trás zonas não edificadas. Com estes, também
eram implantados hospitais/albergarias, com uma importância formal menos
acentuada mas com implantação idêntica. Para além das igrejas e dos conventos,
as Misericórdias, também de carácter religioso, desempenhavam igualmente um
papel estruturador no tecido urbano dos aglomerados urbanos portugueses. No entanto
foi só com Manuel I que este tipo de equipamento urbano surgiu associado às
novas praças que nessa altura foram estruturadas.
Pontos Defensivos. Fortalezas. Muralhas e Portas
Poucas
são as cidades no período medieval que não têm fortalezas, muitas vezes sob a
forma de muralhas. A razão primordial da sua edificação é, nesta altura como em
épocas anteriores, obviamente de ordem defensiva. Apesar da existência de meios
defensivos em períodos anteriores, no período correspondente à reconquista tornou-se
indispensável a construção de novas fortalezas. A muralha cercava a vila e
normalmente acompanhava o acidentado do terreno sem grandes preocupações de
regularidade. Por vezes as muralhas eram acompanhadas de um fosso. A vila
comunicava com o exterior através de portas. Segundo Rossa, as muralhas ao
serem construídas criavam descontinuidades no tecido urbano quer a nível
físico, criando espaços afectos e não afectos à vida urbana, quer a nível de
funcionamento sendo necessário pessoas e bens pagarem portagem à entrada
das cidades. As portas, por seu turno, eram o elo de ligação entre o espaço urbano
e o rural. Por razões defensivas estas impediam as construções no exterior
próximo dando, por vezes, origem aos terreiros, largos ou rossios. No interior
e também junto à porta é igualmente frequente encontrar-se um largo, espécie de
átrio de distribuição». In Teresa Madeira, Urbanismo, Comunicação
apresentada no Colóquio Internacional Universo Urbanístico Português,
1415-1822, Coimbra, 1999.
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