Pastoral
«Por ser tão
leve o teu passar
na estrada, à tarde, quando vens
de pôr o gado que não tens,
a pastar...
Por ser tão brando o teu sorrir,
tão cheio de feliz regresso
do longo prado, onde apeteço
contigo ir...
Por ser tão breve o teu querer
alguém que perto de ti passe
e, porque a tarde cai, te abrace.
Sem nada te dizer...
Por ser tão calmo o teu sonhar
que já é tempo de não ter
esse rebanho de pascer,
mas outro de amamentar...
É que eu me perco no caminho
do grande sonho sem janelas,
de estar contigo no moinho,
sem o moleiro nem as velas».
na estrada, à tarde, quando vens
de pôr o gado que não tens,
a pastar...
Por ser tão brando o teu sorrir,
tão cheio de feliz regresso
do longo prado, onde apeteço
contigo ir...
Por ser tão breve o teu querer
alguém que perto de ti passe
e, porque a tarde cai, te abrace.
Sem nada te dizer...
Por ser tão calmo o teu sonhar
que já é tempo de não ter
esse rebanho de pascer,
mas outro de amamentar...
É que eu me perco no caminho
do grande sonho sem janelas,
de estar contigo no moinho,
sem o moleiro nem as velas».
Desaparecido
«Sempre que leio
nos jornais:
‘de casa de seus pais desapareceu...’
Embora sejam outros os sinais,
suponho sempre que sou eu.
Eu, verdadeiramente jovem,
que por caminhos meus e naturais,
do meu veleiro, que ora os outros movem,
pudesse ser o próprio arrais.
Eu, que tentasse errado norte;
vencido, embora, por contrário vento,
mas desprezasse, consciente e forte,
o porto de arrependimento.
Eu, que pudesse, enfim, ser meu
‘de casa de seus pais desapareceu...’
Embora sejam outros os sinais,
suponho sempre que sou eu.
Eu, verdadeiramente jovem,
que por caminhos meus e naturais,
do meu veleiro, que ora os outros movem,
pudesse ser o próprio arrais.
Eu, que tentasse errado norte;
vencido, embora, por contrário vento,
mas desprezasse, consciente e forte,
o porto de arrependimento.
Eu, que pudesse, enfim, ser meu
livre o
instinto, em vez de coagido,
‘de casa de seus pais desapareceu...’
Eu, o feliz desaparecido».
‘de casa de seus pais desapareceu...’
Eu, o feliz desaparecido».
Poemas de Carlos Queirós, in ‘Veredas da Língua’
Cortesia de Veredas da Língua/JDACT