domingo, 8 de novembro de 2015

Carlos XII Suécia. Monarcas Infelizes. Américo Faria. «Os esplêndidos feitos de armas de Carlos XII, em série vitoriosa e sucessiva, tiveram extraordinária retumbância no Mundo, espantado. No seu país, tão boas e estimulantes notícias foram acolhidas com o delírio popular»



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Rei errante que não conseguiu voltar ao trono
«(…) Carlos, todavia, resoluto e intimorato, não era homem para recuar, mesmo perante tão flagrante desigualdade. Assediando, nesse mesmo ano, Narva, o soberano sueco, mercê da sua habilidade e estratégia, do seu prestígio e do valor dos seus homens, obtém sobre o inimigo memorável vitória, deixando-o totalmente desbaratado, a saborear o amargo gosto da derrota. Bater o colosso russo era coisa inconcebível originou a admiração do Mundo. Faltava vencer o último dos três possantes inimigos. Carlos, verdadeiramente incansável, senhor de uma energia assombrosa e com o carácter já caldeado pela dureza da vida de campanha, dispõe-se a travar o que ele julgava ser a última batalha. Sem ter voltado à sua capital depois da declaração da guerra (aliás, ele não tornaria mais à sua corte!), avança com os seus exércitos invencíveis sobre as tropas saxónicas do rei da Polónia, às quais consegue derrotar na passagem do Duna, em 1701. Augusto II logra escapar-se ao aprisionamento e retira desordenadamente. Carlos aproveita inteligentemente a desorganização do exército inimigo, persegue-o tenazmente e invade com os seus valorosos homens o solo polaco. Contactos fortuitos se estabelecem, por vezes, entre os antagonistas, mas a decisão final da contenda só em 1703 viria a manifestar-se com uma nova e clamorosa vitória dos suecos. Estes, comandados pelo seu juvenil e querido chefe, abatem, em Kissaw, o orgulho e a pertinácia do inimigo.
Os esplêndidos feitos de armas de Carlos XII, em série vitoriosa e sucessiva, tiveram extraordinária retumbância no Mundo, espantado. No seu país, tão boas e estimulantes notícias foram acolhidas com o maior e mais justificado delírio popular. Augusto, derrotado, esmagado material e moralmente, vê-se constrangido a abandonar a pátria e a renunciar à coroa. Os polacos, humilhados, encarregam o seu compatriota Estanislau Leczinski, oriundo de ilustre família e filho de Raphael Leczinski, palatino da Posnânia, de negociar a paz junto do vencedor. E, sob o título de Estanislau I Leczinski, o negociador, por influência sueca, sobe ao trono vago da Polónia, assinando ambas as partes um acordo definitivo entre os dois países: o tratado do Alto-Randstadt, firmado em 1706, após a invasão da Saxónia.
Resolvido o caso polaco, Carlos XII, previdentemente, trata de consolidar Estanislau I Leczinski no trono, a fim de se poderem estabelecer relações duradoiras e amigáveis entre os dois povos vizinhos. Entretanto, os Russos, de recursos inesgotáveis e já refeitos da tremenda derrota sofrida em Narva, reorganizados e sem desistirem das suas pretensões de domínio, ao mesmo tempo que animados do desejo de desforra, preparam-se activamente para marchar contra os invictos suecos e entravar-lhes o sucesso das armas. As contínuas vitórias de Carlos XII estavam provocando o alarme em muitos Estados europeus e originavam, sobretudo, a inquietação no espírito de Pedro, o Grande, pela limitação de largas ambições territoriais». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.

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