terça-feira, 3 de novembro de 2015

Um Rei Avesso à Política. Fernando II. Maria Antónia Lopes. «Agradeço-lhe muito as suas duas cartas, assim como também a resolução que o conde tomou, a qual aprovo muito. Pode ser que certas pessoas não façam o mesmo»

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Convite para ser rei. A escolha de Fernando Augusto de Coburgo
«(…) O conde do Lavradio não esclarece quem lhe mencionou e recomendou o príncipe, mas é muito provável que tivesse sido inculcado por mensageiro de Vitória Coburgo, duquesa de Kent. Foi ela, e sobre isso não há dúvida, a primeira dos Coburgos a interessar-se pelo assunto e a fazê-lo avançar, mesmo antes de conhecer a opinião dos irmãos. Mas, prudente, porque a sua situação em Inglaterra não podia sofrer a mínima beliscadura, só se manifestou claramente depois de conseguida a aprovação do rei Guilherme IV e do governo inglês, que a deram de imediato, pois punha termo definitivo à hipótese Orleães. O emissário português testemunha: … em toda esta negociação fui auxiliado por Suas Altezas Reais, a duquesa de Kent e duque de Sussex, e por lord Palmerston, que, para isso, recebeu ordens positivas do rei de Inglaterra.
A 28 de Julho, Lavradio envia a proposta ao duque Fernando Jorge, depois de a ter dado a conhecer à duquesa de Kent e ao duque de Sussex. Pelo mesmo mensageiro que partiu para Viena seguia uma carta de Vitória. Esta estava certa de que o irmão ficaria muito honrado com o pedido e daria grande atenção ao facto de ser apoiado pelo governo britânico e por ela própria, mas pede a Sussex, dada a delicadeza da matéria, que faça entender a Lavradio que não é conveniente visitá-la antes da resposta afirmativa do irmão. Depois, afirma, quando ela chegasse adoptaria um comportamento que demonstrasse o seu apoio. É óbvio que Vitória se apressou a escrever aos irmãos Ernesto e Leopoldo. Ao conhecer a reviravolta do seu projecto matrimonial, em Agosto, dona Maria ficou agradada e em carta a Lavradio diz-lhe: Agradeço-lhe muito as suas duas cartas, assim como também a resolução que o conde tomou, a qual aprovo muito. Pode ser que certas pessoas não façam o mesmo. Referia-se a rainha, entre outros, à madrasta, que promovia o casamento da enteada com o seu irmão Maximiliano. Aliás, logo em Abril, dona Amélia escrevera à mãe nesse sentido, comunicando-lhe que era isso que se desejava em Portugal. Dona Maria prossegue na carta a Lavradio: o que eu acho é que foi excelente que nós tivéssemos metido a duquesa de Kent e o duque de Sussex neste negócio, porque me parece sempre bom metermos nos nossos negócios algum tory e também me parece que é o príncipe de Saxe Coburgo o que é melhor para Portugal, não só por ser de uma família tão ilustre como ele é, mas também por ser parente do rei dos Belgas e da princesa Victoria.
Na Casa reinante em França, o nome foi também bem acolhido. Em carta à filha mais velha, a rainha dona Maria Amélia escreve: Já tinham comunicado ao pai, de Lisboa, o projeto de casamento da pequena rainha com o filho do príncipe Fernando. O pai aprová-lo-ia muito e espero que se acerte. Parece-me que estando ligado à Inglaterra e a Léopich [rei Leopoldo, seu genro] por parentesco e à Áustria pela posição, seria uma boa escolha, que poderia ser vantajosa para Portugal.

A renitente autorização do pai
Fernando Jorge Coburgo viajava pelas suas terras da Hungria e só em Setembro leu as cartas remetidas de Londres, em Julho. Respondeu de imediato, dizendo-se muito lisonjeado, mas pediu tempo para discutir o assunto que tinha de ser levado ao conhecimento dos irmáos Ernesto, chefe da família, e Leopoldo, um chefe de facto. Estes já estavam a par da situação e, mais interessados na grandeza da sua Casa do que na felicidade do jovem em causa, exerceram forte pressão sobre o irmão para que aceitasse. Olivier Defrance viu em Leopoldo aquele que conseguiu demover Fernando Jorge, mas o papel de Ernesto foi decisivo. Quanto ao jovem Fernando, ninguém o ouviu. O seu destino foi traçado pelo pai e pelos tios. À mãe, decerto, também ninguém atendeu». In Maria Antónia Lopes, D. Fernando II, Um Rei Avesso à Política, Círculo de Leitores, 2013, ISBN 978-972-42-4894-3.

Cortesia de CL/JDACT