As
nossas madrugadas
«Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
O sono em que me deito
pois suspeitas
que com ele me visto
e me defendo
É raiva
então ciúme
a tua boca
É dor e não
queixume
a tua espada
É rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras
com que falas
E tomas-me à força
não o sendo
e deixo que o meu ventre
se
trespasse
E queres-me de amor
e dás-me
o tempo
A trégua
A entrega
E o disfarce
Lembras os meus ombros docemente
na dobra do lençol que desfazes
na pressa de teres o que só
sentes
e possuíres de mim o que não sabes
Despertas-me de noite
com o teu corpo
Tiras-me do sono
onde resvalo
E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
vais descobrindo vales»
Entre
nós e o tempo
«Assim... meu amor
penetra o tempo
as ancas devagar
as pernas lentas
o charco dos teus olhos
e a laranja
a palpitar
dentro do meu ventre
Assim... meu amor
penetra o tempo
a boca devagar
os dedos lentos
a raiva do punhal que enterras
no sol pastoso
do meu ventre
Assim... meu amor
penetra o tempo
os rins devagar
o espasmo
lento»
Poemas
de Maria Teresa Horta, in ‘As Palavras do Corpo’
In
Maria Teresa Horta, As Palavras do Corpo, 2012, Publicações dom Quixote, 2014,
ISBN 978-972-204-903-0.
Villas-Boas, que estejas na paz!