A renitente autorização do pai
«(…) O duque Fernando Jorge
reuniu-se com o irmão mais velho em Praga, mas regressou a Viena e só em Novembro
partiu com a família para Coburgo. Ernesto, Vitória e Leopoldo não tinham
cessado de o pressionar. O mesmo fizera o governo britânico. A 22 de Setembro,
Palmerston informa a duquesa Vitória que, caso as negociações do consórcio corressem
bem, o governo britânico tomaria a
prominent part in the matter. Nesse sentido, Guilherme IV autorizara já os
seus ministros a tomarem as providências necessárias para que o enlace se
viesse a concretizar. Mas Fernando Jorge continuava a resistir. Ainda a 31 de Outubro,
Ernesto dirige-lhe uma longa carta que é quase um ultimato em nome dele, de Leopoldo
e de Vitória: tem de partir para Coburgo sem mais dilações porque Lavradio já
está a caminho, sendo inadmissível que o não encontre à chegada. Alerta-o para
o facto de ser já impossível recuar e que tanto Vitória como Leopoldo e a
própria Inglaterra estavam comprometidos no assunto. Fernando Jorge Coburgo
continuava muito receoso da reacção de Metternich e temia também agora um
possível apoio da rainha de Inglaterra à família Leuchtenberg, a da madrasta de
dona Maria II, recorde-se. Ernesto procura tranquilizar o irmão, garantindo-lhe
que a rainha de Inglaterra tem uma posição completamente neutral. Quanto a
Metternich, nunca declarou os seus planos abertamente e, em todo o caso, é
preferível afastar-se dele. Reitera, pois, que só vê benefícios e nenhuma
desvantagem em que Fernando se afaste de Viena e avance com o casamento do filho.
E refere-se já a pormenores como se fosse assunto decidido: cerimónia em Coburgo,
casamento por procuração, viagem do noivo para Portugal, residência de Toni e
da filha durante essa viagem. Envia-lhe ainda uma carta de Leopoldo que lhe
garante que será acolhido na Inglaterra, onde se deseja que acompanhe o filho,
e o mesmo acontecerá em Portugal, e dá-lhe conta da opinião de Vitória, segundo
a qual a resolução do assunto não pode ser adiada para a Primavera seguinte, como
Fernando Jorge pretendia, sob pena de não ser concluído.
Também Alberto, com apenas 16
anos, mas já muito senhor de si, escrevia ao primo: felicitava-o, informava-o
de que tudo se preparava para receber a delegação portuguesa, comentava o
turbilhão de sentimentos que Fernando deveria estar a experimentar, entre a
alegria esfuziante e a angústia, pois não seria fácil tornar-se marido tão cedo
e menos ainda separar-se dos pais e irmãos; por fim, dizia-lhe que o aguardava
impaciente e que conversariam sobre o seu futuro. Alberto já então oferecia conselhos
a Fernando, o que talvez irritasse o primo mais velho, como aconteceria mais
tarde.
Não menos ansiosa pelo sucesso
das negociações estava a jovem rainha de Portugal, que comunica a Lavradio que
se ajustar esse casamento será o maior
milagre que o conde pode fazer. E pede que lhe envie um retrato do
príncipe, ainda que seja daqueles pretos
como se fazem em Inglaterra. De imediato começa a preparar o paço para
receber o novo marido, o que irá provocar um conflito com a madrasta, que teve
de se instalar noutro palácio, significando, portanto, a sua perda de
influência e afastamento definitivo do centro da corte. Realizado que foi o
casamento, dona Maria voltará a afirmar que o considera um verdadeiro milagre,
sobretudo devido aos esforços que se fizeram para que se realizasse com o irmão
da duquesa de Bragança, o príncipe Max, que
tem cara de batata frita.
Difíceis negociações
Num
bom resumo da questão, o marquês de Fronteira escreve: A proposta do conde do Lavradio foi aceite
pela rainha e seus ministros e os esponsais e escrituras matrimoniais
fizeram-se na corte de Gotha. As escrituras foram idênticas às do príncipe
Augusto; o príncipe Fernando, futuro marido da rainha, desistiu da grande
fortuna a que tinha direito por morte de sua mãe e os seus parentes exigiram do
governo de Portugal que ele estivesse na mesma posição do príncipe Augusto,
inclusivamente comandante em chefe do exército, o que provocou uma grave questão
na imprensa e no Parlamento. Mas este acordo matrimonial exigiu ao conde do
Lavradio muito trabalho, engenho e paciência». In Maria Antónia Lopes, D.
Fernando II, Um Rei Avesso à Política, Círculo de Leitores, 2013, ISBN
978-972-42-4894-3.
Cortesia
de CL/JDACT