quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. Michael Baigent. Eichard Leigh. Henry Lincoln. «Em 1209, um exército de cerca de trinta mil cavaleiros e soldados a pé, da Europa do Norte, desceu como um furacão sobre o Languedoc, na zona que é hoje o Sul de França»

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Os cátaros e a grande heresia
«(…) Em primeiro lugar, os hereges medievais tinham estado presentes em grande número na aldeia e nos seus arredores,zona que sofreu brutalmente durante a Cruzada Albigense. Na verdade, toda a história da região está empapada de sangue cátaro, e os resíduos desse sangue, juntamente com muita amargura, persistem até aos dias de hoje. Muitos dos camponeses actuais da zona, sem inquisidores que possam cair sobre eles, afirmam abertamente a sua simpatia pelos cátaros. Há mesmo uma igreja cátara e um chamado papa cátaro que, até à sua morte em 1978,vivia na aldeia de Arques. Sabíamos que Saunière se tinha envolvido na história e folclore da sua terra natal, pelo que nunca poderia ter evitado o contacto com o pensamento e tradições cátaras. Não podia ignorar que Rennes-le-Château fora uma cidade importante nos séculos XII e XIII, e uma espécie de bastião cátaro. Saunière devia estar também familiarizado com as inúmeras lendas relacionadas com os cátaros. Devia conhecer os rumores que os relacionavam com esse objecto fabuloso, o Santo Graal. E se Richard Wagner, em busca de algo relacionado com o Graal, visitou realmente Rennes-le-Château, Saunière também não podia ignorar esse facto.
Além disso, em 1890, um homem chamado Jules Doinel tornou-se bibliotecário em Carcassonne e fundou uma igreja neo-cátara. O próprio Doinel escreveu abundantemente sobre a ideologia cátara e, em 1896, tornou-se um membro proeminente de uma organização cultural local, a Sociedade de Artes e Ciências de Carcassonne. Em 1898 foieleito secretário desta organização. Desta sociedade faziam parte vários dos conhecimentos de Saunière, incluindo o seu melhor amigo, o abade Henri Boudet. E o círculo pessoal de Doinel incluía Emma Calvé. É portanto muito provável que Doinele Saunière se conhecessem. Há uma outra razáo, ainda mais excitante, para relacionar os cátaros com o mistério de Rennes-le-Château. Num dos pergaminhos encontrados por Saunière, o texto está polvilhado com uma mão-cheia de letras pequenas, oito, para sermos mais precisos, deliberadamente diferentes de todas as outras. Três destas letras estão na parte de cima da página, as outras cinco mais para baixo. Estas oito letras só têm de ser lidas em sequência para soletrar duas palavras, Rex Mundi. Este é inconfundivelmente um termo cátaro, imediatamente identificável por qualquer pessoa familiarizada com o pensamento dos cátaros. Dados estes factores, parecia razoável começar a nossa investigação pelos cátaros. Começámos portanto a efectuar uma pesquisa detalhada sobre eles, as suas crenças e tradições, a sua história e meio social. A nossa investigação abriu novas dimensões do mistério e gerou várias perguntas intrigantes.

A Cruzada Albigense
Em 1209, um exército de cerca de trinta mil cavaleiros e soldados a pé, da Europa do Norte, desceu como um furacão sobre o Languedoc, a zona montanhosa no sopé nordeste dos Pirenéus, na zona que é hoje o Sul de França. Na guerra que se seguiu, todo o território foi devastado, colheitas destruídas, aldeias e cidades arrasadas, uma população inteira passada a fio de espada. Este extermínio ocorreu numa escala tão vasta e terrívelque pode muito bem constituir o primeiro caso de genocídio da história europeia moderna. Só na cidade de Béziers, por exemplo, foram chacinados pelo menos quinze mil homens, mulheres e crianças, muitos deles no santuário da própria igreja. Quando um oficial perguntou ao representante do papa como podia distinguir os hereges dos verdadeiros crentes, a resposta foi: matai-os a todos. Deus reconhecerá os seus. Esta citação, embora extensamente repetida, pode ser fictícia ou apócrifa. Ainda assim, tipifica o zelo fanático e a sede de sangue com que as atrocidades foram perpetradas. O mesmo representante papal, escrevendo a Inocêncio III em Roma, anunciou orgulhosamente que ninguém foi poupado, nem por idade, nem por sexo, nem por estatuto. Depois de Béziers, o exército invasor varreu toda a região do Languedoc. Perpignan caiu, Narbonne caiu, Carcassonne caiu, Toulouse caiu. E, por onde os conquistadores passavam, deixavam um rasto de sangue, morte e carnificina.
Esta guerra, que durou quase quarenta anos, é agora conhecida como a Cruzada Albigense. Foi uma cruzada no verdadeiro sentido da palavra. Fora convocada pelo próprio papa.Os seus participantes usavam uma cruz nas túnicas, como os cruzados na Palestina. E as recompensas eram as mesmas que se fossem cruzados na Terra Santa, remissão de todos os pecados, expiação das penitências, um lugar garantido no Paraíso e tudo o que conseguissem pilhar. Além do mais, nesta cruzada, nem sequer era preciso cruzar os mares. E, de acordo com a lei feudal, ninguém era obrigado a combater mais de quarenta dias, presumindo, claro, que o combatente não tinha qualquer interesse no saque. Quando a Cruzada acabou, o Languedoc tinha sido completamente transformado, mergulhado na barbárie que caracterizava o resto da Europa. Porquê? Por que razão tinha ocorrido toda esta carnificina, brutalidade e devastaçãoIn Michael Baigent, Eichard Leigh, Henry Lincoln, The Holly Blood and The Holy Grail, 1982, O Sangue de Cristo e o Santo Graal, Editora Livros do Brasil, Colecção o Despertar dos Mágicos, Lisboa, 2004, ISBN 972-38-2651-8.

Cortesia LBrasil/JDACT