Dá-me a tua mão
«Dá-me a tua
mão.
Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira».
Poema de José Gomes Ferreira, in ‘Poeta Militante I
Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira».
Poema de José Gomes Ferreira, in ‘Poeta Militante I
Viver Sempre também Cansa
«Viver
sempre também cansa.
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação».
Poema de Gomes Ferreira, in 'Viver Sempre também Cansa'
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação».
Poema de Gomes Ferreira, in 'Viver Sempre também Cansa'
Se Eu Agora Inventasse o Mundo
«Se eu agora
inventasse o mundo
criaria a luz da manhã já explicada
sem o luto que pesa
na sombra dos homens
conspiração da noite
com as pedras.
Luz que o cheiro das ervas da madrugada
aproxima os mortos do silêncio
com esqueletos de asas
conluio com o sol
para estarem mais presentes
no tacto da pele da manhã,
mil mãos a afogarem a paisagem,
bafo de flores donde cai
o enlace das sementes...
Abro a janela
O mundo cheira tão bem a trevos ausentes!
Bons dias, mortos. Bons dias, Pai».
Poema de José Gomes Ferreira, in 'Elegia Fria com Lírios Inventados'
criaria a luz da manhã já explicada
sem o luto que pesa
na sombra dos homens
conspiração da noite
com as pedras.
Luz que o cheiro das ervas da madrugada
aproxima os mortos do silêncio
com esqueletos de asas
conluio com o sol
para estarem mais presentes
no tacto da pele da manhã,
mil mãos a afogarem a paisagem,
bafo de flores donde cai
o enlace das sementes...
Abro a janela
O mundo cheira tão bem a trevos ausentes!
Bons dias, mortos. Bons dias, Pai».
Poema de José Gomes Ferreira, in 'Elegia Fria com Lírios Inventados'