sábado, 7 de novembro de 2015

Raiz de Orvalho. Paradoxos da Vida Breve. Mia Couto. «Mas estou farto de Passos Coelho, de Seguro, de Costa, de Portas, de todos eles, da ‘troika’, do défice, da crise, de editoriais, de analistas…»

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Poema da despedida
Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo.
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei

Ainda assim,
escrevo»
Abril de 1984

Ave
«Seria um pássaro

No sono das asas
ondulava
toda a solidão do céu

Terrestre,
só a fugitiva sombra

Paisagem nenhuma
lhe dava abrigo

Pousado,
o corpo
de si mesmo se exilava

Nos ensinava
a deslumbrância da viagem
a nós que só na morte
olharemos os céus de frente»
Junho de 1987


Poema mestiço
«Escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico

Sangro norte
em coração do sul

Na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo

Hei-de
começar mais tarde

Por ora
sou a pegada
do passo por acontecer»
Janeiro de 1985

Poemas de Mia Couto, in ‘Raiz de Orvalho-Poesia

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