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De facto, Vataça casaria aos dezassete anos com Martim Anes Soverosa em 1285,
um fidalgo que já passara o meio século de vida. Coisas da política e de um
poder régio mais ou menos absoluto. Tudo começara com a morte do rei de
Castela, Afonso X, no ano de 1284. Queria Afonso de Castela que o seu sucessor
fosse o seu primeiro filho, Fernando de la Cerda, mas face ao falecimento deste
e não querendo que o seu segundo filho, Sancho, ocupasse o trono, determinou
que seu neto, Afonso de la Cerda, lhe sucederia. Puro engano. Seu segundo filho,
Sancho, com uma forte coligação de nobres, deserdou o sobrinho e fez-se coroar rei
em Toledo nesse mesmo ano. Os tempos que se lhe seguiram foram terríveis para
todos aqueles que se lhe haviam oposto. Mandou matar milhares de castelhanos de
todas as classes sociais, criando em Castela e Leão um clima de terror nunca
antes visto. Muitos nobres pediram auxílio a el-rei Dinis I e este, com receio
de represálias pela parte de Sancho IV, encetou contactos com Aragão no sentido
de se ajudarem mutuamente em caso de agressão. Mas o monarca Dinis quis ir mais
longe e iniciou contactos com vários nobres da Galiza mesmo sabendo da ligação destes
a Castela. A verdade é que a Galiza sempre gozara de um estatuto de grande
autonomia em relação a Leão e Castela e essa autonomia poderia ser útil a
Portugal. Logo, nada melhor para tais objectivos que ter um nobre português,
dos mais credenciados junto da nobreza galega, para consolidar uma política de
boa vizinhança e ajuda mútua. E tal nobre só podia ser Martim Anes Soverosa
cuja família estivera fortemente ligada à Galiza e aos primeiros reis de Portugal
desde Afonso Henriques. Martim Anes gozava de enorme prestígio junto dos nobres
galegos e poderia conseguir perfeitamente os propósitos do rei de Portugal. Mandou
por consequência Dinis I a Vataça Lascaris, que o desposasse e garantisse que
os fins pelos quais o casamento se iria realizar seriam alcançados.
Pala
além desta iniciativa diplomática junto da Galiza, Dinis I ainda conseguia
resolver um outro problema. Afastava dona Vataça Lascaris da Corte, onde os zunzuns
da sua relação com a princesa bizantina soavam cada vez mais alto, apesar da
Rainha dona Isabel ser insensível ao ciúme. E encontros com Vataça em Soverosa,
que ficava a sete ou oito léguas a leste do Porto ou a dez léguas ao su1 de
Braga, seriam frequentes. mas muito mais seguros. Bastaria levar a Corte ou
parte dela ao norte para saber como estavam as relações com a nobreza galega e visitar
o palácio dos Soverosa e reencontrar a sua concubina favorita. Mas pouco
adiantou para Portugal aquele casamento, pois Sancho IV de Castela acabana por
invadir Portugal e a guerra entre os dois reinos só terminaria com a sua morte,
em 1295, por acaso o mesmo ano do falecimento de Martim Anes Soverosa. Depois o
Tratado de Alcanizes resolveria todos os diferendos entre os dois reinos.
Mas não
me deste nenhum neto até agora, filha! Disse Eudóxia com tristeza. Pois não,
mãe. Terás que te contentar com os filhos dos meus irmãos e meus sobrinhos.
Deus também não quis que tivesse filhos de Dinis. Mas minha adorada mãe e desculparás
esta minha pergunta, tens de me dizer o que se passou entre ti e o meu pai para
que tivéssemos de sair de Ventimiglia. Fomos expulsos como deste a entender
ontem à tarde? Nem eu sei ao certo o que se passou. Tudo aconteceu já depois da
morte de teu pai. Foi então que me comunicaram que tínhamos sido deserdados e
que deveríamos abandonar Ventimiglia. Falaram-me que por detrás dessa terrível decisão
política estaria a mão de Miguel Paleólogo, de Constantinopla, e que a
principal razão teriam sido as minhas tentativas de angariar apoios para que os
Lascaris regressassem ao império bizantino, como era seu direito. Comecei então
os contactos com Jaime I de Aragão, ainda nosso familiar, para que pudéssemos
ser acolhidos em Zaragoça, tal como veio a acontecer». In Francisco do Ó Pacheco,
Vataça, A Favorita de Dom Dinis, Prime Books, 2013, ISBN 978-989-655-183-4.
Cortesia
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