Cancão
com lágrimas
«Eu canto
para ti um mês de giestas
um mês
de morte e crescimento ó meu amigo
como
um cristal partindo-se plangente
no fundo
da memória perturbada.
Eu canto
para ti um mês onde começa a mágoa
e um
coração poisado sobre a tua ausência
eu canto
um mês com lágrimas e sol o grave mês
em que
os mortos amados batem à porta do poema.
Porque
tu me disseste quem me dera em Lisboa
quem
me dera em Maio. Depois morreste
com Lisboa
tão longe ó meu irmão tão breve
que nunca
mais acenderás no meu o teu cigarro.
Eu canto
para ti Lisboa à tua espera
teu nome
escrito com ternura sobre as águas
e o teu
retrato em cada rua onde não passas
trazendo
no sorriso a flor do mês de Maio.
Porque
tu me disseste: quem me dera em Maio
porque
te vi morrer eu canto para ti
Lisboa
e o sol. Lisboa com lágrimas
Lisboa
à tua espera ó meu irmão tão breve.
Eu canto
para ti Lisboa à tua espera».
Capa
negra rosa negra
«Capa
negra, rosa negra
rosa
negra sem roseira
abre-te
bem nos meus ombros
como
o vento na bandeira.
Abre-te
bem nos meus ombros
vira
as costas à saudade
capa
negra rosa negra
bandeira
de liberdade.
Eu sou
livre como as aves
e passo
a vida a cantar
coração
que nasceu livre
não
se pode acorrentar».
Pedro
soldado
«Já lá
vai Pedro Soldado
num
barco da nossa armada
e leva
o nome bordado
num saco
cheio de nada
triste
vai Pedro Soldado.
Branda
rola não faz ninho
nas agulhas
do pinheiro
não
é Pedro marinheiro
nem no
mar é seu caminho.
Nem
anda a branca gaivota
pescando
peixes em terra
nem é
de Pedro essa rota
dos barcos
que vão à guerra.
Onde
não andas ceifando
já o
campo se fez verde
e em
cada hora se perde
cada
hora que demora
Pedro
no mar navegando.
Não
é Pedro pescador
nem
no mar vindimador
nem
soldado vindimando
verde
vinha vindimada
triste
vai Pedro Soldado.
Já lá
vai Pedro Soldado
num
barco da nossa armada
deixa
o nome bordado
e era
Pedro Soldado.
Branda
rola não faz ninho
nas agulhas
do pinheiro
não
é Pedro marinheiro
nem
no mar é seu caminho.
deixa
o nome bordado
e era
Pedro Soldado».
Poemas
de Manuel Alegre
in “Trovas do vento que passa”
Em
memória do amigo Fernando José († 4/4/1992). Que estejas em paz.
Abraça
o Filomeno e o Mateus. Eu vou ficando por cá…
ISBN
978-989-619-121-7
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