domingo, 3 de abril de 2016

A Armada do Papa. Gordon Urquhart. «… aquela ênfase nos orvalhos de pecado que caracterizaram a era pré-Concílio, e isto exposto em termos extremamente severos…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Para espanto e horror de seus pais, uma das condições da reconciliação era que nem Rita nem as crianças tivessem mais qualquer contacto com a família, nem mesmo com os irmãos e irmãs, nem com os filhos deles. E tudo isto apesar de nenhum deles ter feito qualquer gesto para precipitar o rompimento, que foi uma decisão pessoal de Rita. Agora, a mãe de Rita só pode ver os netos em segredo; e ela considera particularmente difícil suportar a brutalidade do genro que, como líder do NC, passa a maior parte do seu tempo evangelizando na paróquia. Exilada dentro da sua própria paróquia, ela me traz muitas lembranças infelizes, ela não tem mais a menor esperança de uma solução para as divisões que o NC causou na sua família e ostenta um ar de tristeza permanente. Não acredito mais que Rita largue o movimento. Depois do casamento de Rita, a sua mãe e um grupo de membros da paróquia, preocupados, tentaram desvendar o segredo que cercava a organização que havia crescido de mansinho no meio deles nos dez anos anteriores. Ficaram espantados diante do que descobriram. Longe de ser um grupo marginal, o NC era, naquela época, dirigido pelo vigário da paróquia, padre Michael Hopley, que era, ele próprio, um dos homens de confiança do movimento. Espantoso também era o facto de que o movimento não somente organizava reuniões secretas mas ainda reproduzia em segredo os serviços mais importantes da igreja, embora eles fossem celebrados pelo vigário da paróquia. Isto sugeria que havia como que um sistema de duas camadas, de dois níveis dentro da paróquia. Mas, durante dez anos essas actividades haviam ficado tão bem escondidas que nem mesmo os membros leigos do Conselho, corpo de coordenadores dentro da paróquia da Abadia de Ealing, sequer tinham ouvido falar no nome Neocatecumenato. Porquê todo este segredo? Foram feitos inquéritos em que se procurou ouvir o vigário da paróquia, o abade, que era a maior autoridade dentro da Abadia de Ealing, e até mesmo o próprio cardeal Hume, sobre os aspectos estruturais do NC, sobre sua hierarquia e o seu status como organização católica. Apesar de tudo isto, não se obteve nenhuma resposta satisfatória. Na realidade, desde que havia sido instalado na paróquia, o NC organizava todos os anos, durante o Outono, cursos públicos de introdução, com o propósito de recrutar novos membros. Esses cursos eram anunciados tanto do púlpito quanto em publicações, mas o nome do NC nunca aparecia. No boletim paroquial do domingo, 26 de Outubro de 1986, por exemplo, aparece na lista de actividades previstas para a semana: quem é Deus para voz? Às 8h15, no salão paroquial. Nenhum orador do movimento está identificado. Alguns paroquianos que fizeram este curso durante quinze noites num período de oito semanas descobriram que, longe de obterem resposta à sua indagação, a sua perplexidade havia aumentado. O estado de espírito aberto e positivo que havia transformado a Igreja Católica no início da década de 1960, como resultado das reformas do Papa João XXIII e do seu Concílio Vaticano II, tinha levado os fiéis a uma nova valorização do amor de Deus. Os paroquianos da Abadia de Ealing ficaram, pois, surpresos ao encontrar, nos ensinamentos do NC, ou antes, na sua catequese, aquela ênfase nos orvalhos de pecado que caracterizaram a era pré-Concílio, e isto exposto em termos extremamente severos. Mas, na hora de colher informações sobre as actividades internas do movimento, os paroquianos ficaram a ver navios: de acordo com as normas do NC, eles foram informados de que não eram permitidas perguntas durante os encontros. Compareçam às reuniões nocturnas durante estes 15 dias e encontrarão respostas a todas as suas indagações, era tudo o que eles diziam». In Gordon Urquhart, A Armada do Papa, tradução de Irineu Guimarães, Editora Record, 2002, ISBN 978-850-106-222-2.

Cortesia de ERecord/JDACT