sexta-feira, 1 de abril de 2016

O Gharb al Andalus. Século VII/XIII. António Rei. «Poucos serão aqueles entre a sua gente que não digam poesia e não se interessem pela cultura. E se passares por um agricultor detrás da sua junta de bois, e lhe sugerires um mote, glosá-lo-á na hora»

jdact e wikipedia

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Bashîla (?)
Um dos distritos de Ocsónoba, em al-Andalus.
Al-Jawf (?)
Território baixo ou avançado no mar, no ocidente de al-Andalus, sobre o Mar Circundante. E é também, um dos distritos de Ocsónoba, de al-Andalus.
Al-Zâwiya (Lagos)
Um dos distritos de Ocsónoba, em al-Andalus.
Sharq (?)
Com a pronúncia de Oriente contrário de Ocidente. [...] Distrito de Beja [...] em al-Andalus.
Shaqabân (Sacavém)
É um dos povoados de Lisboa, a oriente dela. Relaciona-se com ela Taytal ibn Ismâ‘îl al-Saqabânî, de quem há alguma poesia. Este poeta e místico da região de Lisboa, depois de ter vivido e estudado em Córdova, veio, mais tarde, a escolher a zona da albufeira de Sacavém para seu local de retiro espiritual, tendo lá edificado uma arrábida ou azóia. Lá permaneceu, até ao fim dos seus dias, dedicando-se às práticas espirituais. A sua fama perpetuou-se, tendo a arrábida ficado conhecida, durante bastante tempo, como a Arrábida de Taytal. A memória daquela arrábida ou azóia terá permanecido até hoje na região, concretamente no topónimo Azóia, próximo de Stª Iria da Azóia.
Shilb (Silves)
É uma cidade no ocidente de al-Andalus. Entre ela e Beja, são três dias. Está a oeste de Córdova. É a capital do distrito administrativo de Ocsónoba. E entre ela e Córdova são dez dias para o cavaleiro veloz. Fui informado de que não há em al-Andalus, para lá de Sevilha, outra [cidade] como ela. Entre ela e Santarém, são cinco dias. Ouvi dizer a muitos: Poucos serão aqueles entre a sua gente que não digam poesia e não se interessem pela cultura. E se passares por um agricultor detrás da sua junta de bois, e lhe sugerires um mote, glosá-lo-á na hora [e de forma correctíssima].
Shantara (Sintra)
Com vogal a e depois ausência de vogal, e com dois pontos encima e sem qualquer ponto diacrítico. Cidade dos distritos fiscais de Lisboa, em al-Andalus. Diz-se: nela há maçãs, em que o perímetro de cada maçã é de três palmos (sobre as extraordinárias maçãs de Sintra; Sintra ou Santarém, âmbar e maçãs). Deus sabe se isso é verdade. Está agora em poder dos cristãos, que a conquistaram no ano 543. A partir desta referência cronológica, que precisa de ser confirmada, a Sintra islâmica teria ainda resistido, no mínimo, mais sete a oito meses à conquista cristã, após a queda de Lisboa (21 de Outubro de 1147), pois o ano de 543 iniciou-se em 22 de Maio de 1148.
Shantarîn (Santarém)
Trata-se de duas palavras articuladas : shanta, uma palavra, e rîn outra palavra, como se explicou anteriormente. (Em) rîn o é vocalizado com i ; (sendo)o (mesmo) com dois pontos (em baixo); e (no fim há) nûn. É uma cidade com dependências fiscais confinando, com as dependências de Beja, no ocidente de al-Andalus, para oeste de Córdova. Está situada junto ao rio Tejo, perto da sua desembocadura no Mar Circundante. É inexpugnável. Entre ela e Córdova, são 15 dias; e entre ela e Beja, são 4 dias. Ela agora é dos cristãos, tendo sido dominada no ano de 543. Algum erro de leitura se terá dado aqui pois a conquista de Santarém, em 15 de Março de 1147 sucedeu ainda no ano islâmico de 541, e não no de 543 (1148/49). Esta informação provirá de Ibn Ghâlib, o qual, no relativo à conquista cristã, tratou numa mesma passagem Lisboa, Sintra e Santarém. Yâqût decompôs essa passagem em tantas partes quantas as localidades referidas. Para a Lisboa de Ibn Ghâlib, e para Lisboa e Sintra de Yâqût». In António Rei, O Gharb al-Andalus em dois geógrafos árabes do século VII/XIII, Yâqût al-Hamâwî e Ibn Sa’îd al-Maghribî, Bolseiro da FCT, Lisboa, Revista Medievalista, director Luís Krus, Ano 1, Nº 1, Instituto de Estudos Medievais, FCSH-UNL, FCT, 2005, ISSN 1646-740X.

Cortesia de RMedievalista/JDACT