CapafantásticadolivroantimaçónicoLesMystèresdelaFranc-MaçonneriedeLéoTaxil
(cerca de 1890)
jdact
O mito
maçónico
«(…)
Sempre que a opinião pública julga ter compreendido a Franco-Maçonaria, se é
que alguma vez a compreenderá, de todo, essa pseudo-compreensão é feita de
determinados conceitos contraditórios. De acordo com eles, a Franco-Maçonaria é
(à vossa escolha): uma anódina hoste de homens que se devotam à realização de
rituais bizarros, vestidos com roupas estranhas; uma cabala secretista formada
por elementos oriundos das mais poderosas e elevadas elites da sociedade; um
grupo de patriotas conservadores e devotos que se dedica à filantropia e ao
bem-comum; uma rede dissimulada de pagãos, ocultistas e cultistas new agers que conspiram para criar uma
Nova Ordem Mundial; uma tradição centenária que perpetua sabedoria e
ensinamentos esotéricos antiquíssimos. É difícil pensar em outra organização
que tenha frutificado tantas especulações contraditórias. O público tem
opiniões bem formuladas sobre grupos tão diversos como, por exemplo, os
Escuteiros ou a Máfia, mas a verdadeira estupefacção ergue a cabeça no que diz
respeito a Franco-Maçonaria. Quando, pela primeira vez, me dispus a descobrir a
verdade sobre ela, achei que esse caldo de concepções era uma mistura
fascinante. Existiria alguma coisa no Oficio (como a Franco-Maçonaria é
apelidada pelos seus constituintes) capaz de fomentar percepções públicas tão
particulares? Depressa descobri que quanto rnais fundo investigava, mais
intrigante o assunto se tornava.
A descrição que a Franco-Maçonaria
faz de si própria, e que pode encontrar-se nas fontes escritas e difundidas
pelo Oficio, é inócua. De acordo com elas, a Franco-Maçonaria é numa das
fraternidades seculares mais antigas do mundo..., uma sociedade de homens
preocupados com valores morais e espirituais. os membros são instruídos nos
seus preceitos através de uma série de rituais encenados que dão continuidade a
antigas fórmulas, usando vestuário e ferramentas do ofício de pedreiro como
alegorias. Será esta a fraternidade que William Cooper, hoje o arquétipo do
teorista da conspiração, acusou de ser uma das mais malévolas e terríveis
organizações que já apareceram à face da terra? Segundo as palavras de Cooper,
os maçons são personagens poderosas que trabalham para a subjugação do globo.
Outro crítico da Franco-Maçonaria,
chamado Martin Wagner, observou a fraternidade por outra perspectiva. Ele
escreveu: tenho provas conclusivas que desvendam que a Maçonaria é um culto
sexual, no qual os poderes geradores são idolatrados em rituais sob o disfarce
de símbolos fálicos. O falicismo é a essência da religião que é a Franco-Maçonaria.
É claro que os líderes maçons negam quaisquer suspeitas que se dirijam a este
tipo de especulações. Na verdade, insistem que: a Franco-Maçonaria não é uma
religião, nem pretende substituí-la. A sua qualificação essencial [a crença na
existência de um Princípio Divino Superior] é aquilo que a torna aberta aos
crentes de todas as religiões. A Franco-Maçonaria espera que esses homens
mantenham as crenças pessoais; e, ao mesmo tempo, proíbe que se discutam
assuntos religiosos nas suas assembleias.
Encontrei esta mistura de suspeitas
e acusações em imensas ficções que evocam o Oficio, por vezes num registo
humorístico. Inúmeros mitos maçónicos foram satirizados de forma deliciosa num
episódio da série televisiva de animação norte-americana Os Simpsons, criada pelo desenhador Matt Groening, no qual nos é
apresentada uma sociedade secreta chamada os Cortadores de Pedra. Nessa
história, Homer Simpson (o patriarca da família disfuncional que baptiza a
série) suplica para ser iniciado nesse clube exclusivo, a que pertencem dois
colegas de trabalho e o patrão dele, o Burns. Assim que é admitido no seio dos Cortadores
de pedra, Homer descobre, para sua felicidade, que pode usufruir de todos
os privilégios e mordomias que são prerrogativas dos membros da sociedade, incluindo
o uso de uma auto-estrada ultra-secreta. Ganhando a liderança da sociedade por
mérito de um sinal de nascimento que o marca como sendo o escolhido, profetizado
nas escrituras do grupo, Homer goza de um breve período em que se sente tão
poderoso quanto Deus, até ao dia em que, num volte-face inesperado, pede aos
seguidores que pratiquem o bem comum em vez de passarem o tempo deles em faustosas
jantaradas. Esta decisão semeia, imediatamente, o descontentamento no seio da
sociedade dos Cortadores de Pedra e toda a gente a abandona para formar uma
nova fraternidade: a Antiga e Mística Sociedade Daqueles Que Não São Como o
Homer». In O Mito Maçónico, Jay Kinney, 2009, tradução de David Soares, Saída
de Emergência, 2010, ISBN 978-989-637-176-0.
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