terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A Bela Poesia. Máscaras. Orlando Neves. «As minhas palavras foram a parte da água que subiu ao encontro das pestes. Nos declives densos suaves das dunas, milhões de átomos matéria cristalina…»


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Pórtico
Tudo é posto em equilíbrio.
Haverá pássaros.
Sempre.
E uma leve morte.
Cerrar-se-á a luz de amar.
E a paz do chão.
As minhas palavras
foram a parte da água
que subiu ao encontro
das pestes.
Nada curaram
ou ressuscitaram.
Fabricaram
uma grande estrela que.

E nada separaram.
Atira-me, amor,
a alma.

Tratado geral das utopias
A Ave Divina
Em Marmin caiu a manucodiata,
a ave do paraíso.
Desceu de asas abertas,
reluzentes como o ouro,
resplandescentes como o Sol.
Em Marmin caiu a manucodiata,
a ave do além.
Das suas costas elevaram-se
ao orvalho do céu,
os jovens filhos.
Em Marmin caiu a manucodiata,
a ave do ar,
que vive do ar
e permanece continuamente no ar.
Em Marmin caiu, morta, a manucodiata,
a aye de Deus.

OMar e o Fogo
Confusas bibliotecas amarelecem
sob as areias velhas de Osíris,
caindo a poente.
Na paralisada noite do seu sono
uma língua / olor
jaz em meditações sobre o tempo
e as paixões. Que terror sobre-humano
nestes ossos invisíveis pela opacidade
purulenta do sol letal!
Nos declives densos suaves das dunas,
milhões de átomos
matéria cristalina dos espaços vazios,
gotejam sangue em Alexandria.

Poemas de Orlando Neves, in ‘Máscaras

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