quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Do Japão para o Alentejo. A Embaixada Tenshö em Vila Viçosa no ano de 1584. Tiago Salgueiro. «O Paço dos Duques de Bragança, em Vila Viçosa, foi um dos lugares visitados por quatro jovens vindos do Japão no século XVI. Se só por si esta notícia teria tido impacto pelo momento em que ocorreu e por constituir um encontro multicultural no contexto nacional…»

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«É possível imaginar hoje um encontro de culturas no século XVI? Talvez esse exercício seja mais fácil de efectuar, depois da leitura atenta do presente livro. O fascínio e o mistério devem ter sido elementos fundamentais no contacto mantido entre os embaixadores Japoneses e o duque de Bragança, Teodósio II. E desse encontro que iremos falar nas próximas linhas. A história dos Quatro Legados da Era Tenshô e a sua passagem por Vila Viçosa sempre exerceu um elevado fascínio. Os seus nomes, os locais por onde passaram nesta localidade e relação que mantiveram com Teodósio II despertaram, um grande interesse na recolha de informações mais detalhadas que permitissem compreender as razões da presença na bela Callipole dos jovens japoneses. O trabalho resulta dum conjunto de investigações desenvolvidas no Museu-Biblioteca da Casa de Bragança sobre a visita dos embaixadores Japoneses à corte do duque Teodósio II. Com este objectivo, foram analisadas duas obras essenciais para a interpretação dos motivos que terão estado na origem da visita a Vila Viçosa, nomeadamente o Diálogo sobre a missão dos embaixadores japoneses à Cúria romana da autoria de Duarte Sande e o Tratado dos embaixadores japões que foram do Japão a Roma no ano de 1582, de Luis Frois.
Constituindo duas obras de referência sobre esta temática, o objectivo definido na análise que foi desenvolvida baseou-se na identificação dos possíveis motivos que estiveram na origem na deslocação a Vila Viçosa e na forma como foram recebidos pelo duque de Bragança Teodósio II. O relato magistral da viagem, escrito pelo padre Luís Frois e o diálogo composto em Macau pelo padre Duarte Sande, sob inspiração de Alessandro Valignano, serviram de base a inúmeros livros e artigos e inspiraram também estas linhas.
A investigação desenvolvida ao longo de quase dois anos de trabalho tentou apurar os factos que terão estado na origem da visita dos embaixadores Japoneses à corte sediada em Vila Viçosa. Terá sido uma mera visita de cortesia? Terá havido objectivos políticos, religiosos ou económicos neste inusitado encontro cultural? Que interesses poderão ter tido como consequência uma recepção digna de monarcas ou altos representantes estatais?
A pesquisa que foi efectuada origina várias hipóteses, no sentido em que a corte brigantina, fortemente influenciada por valores humanistas, teria todo o interesse em promover e explorar este encontro cultural entre duas civilizações distintas. O que é incontornável é o facto de que Vila Viçosa se encontra em igualdade de circunstâncias com outras grandes capitais europeias, como local escolhido pelos Jesuítas para enaltecer os valores cristãos e humanistas do duque de Bragança e a sua importância no contexto ibérico. Entendemos que não terá sido por mero acaso ou por razões de carácter logístico que a corte de Teodósio II foi escolhida como ponto de passagem para a comitiva japonesa.
O facto dos duques de Bragança procurarem, nas suas estratégias, visar, sobretudo, a consolidação e a manutenção das posições sociais e políticas entretanto adquiridas no espaço nacional, também poderá justificar a vinda dos ilustres visitantes japoneses a Vila Viçosa. Durante este período histórico em concreto, são notórias as tentativas de D. Catarina, viúva do 6º duque, João I, em conseguir obter, junto do seu primo Filipe II de Espanha, I de Portugal, direitos régios juridicamente alienáveis, tais a perseguição de bens simbólicos, o jogo de alianças matrimoniais e dos privilégios de tratamento, de modo a garantir um estatuto social impar para a Casa, não só no contexto português, mas também no ibérico.
Não é fácil encontrar uma resposta objectiva sobre este tema. O que é um facto concreto é que os embaixadores japoneses ficaram, segundo todas as crónicas, absolutamente surpreendidos pela riqueza e pela opulência da Casa de Bragança, manifestada materialmente através do seu Paço Ducal e do seu conteúdo decorativo. Na realidade, o Paço era um lugar institucional de promoção e consolidação de poder. A importância de Vila Viçosa, com a presença dos duques e da sua corte desde 1502, é atestada pela nova carta de foral dada por Manuel I em 1512 e que classificava a Vila como um dos lugares principaes do reino». In Tiago Salgueiro, Do Japão para o Alentejo, A Embaixada Tenshö em Vila Viçosa no ano de 1584, A Jornada Espiritual dos 4 samurais japoneses na Callipole de quinhentos…, Chiado Editora, 2012, ISBN 978-989-697-670-5.

Cortesia de Chiado E./JDACT