Soldadinho Novo
Adeus
soldadinho novo que tão triste
andas na guerra.
Ou te
lembra pai ou
mãe ou
alguém da tua terra.
Não me
lembra pai nem mãe, nem ninguém da minha terra,
só me lembra a minha amada, que era uma linda donzela.
Toma
lá este cavalo,
vai a tua amada ver,
mas no fim de sete
meses há-des
mo cá
vir trazer.
Soldadinho, de contente, no cavalo s' amontou.
Chegando lá
muito adiente, o Diabo o incuntrou.
Não te
espantes cavalo branco, cavaleiro que nele vem.
Não te
espantes cavalo branco, cavaleiro que nele vem,
aqui tens a tua amada, que t' amou com grande bem.
Onde vás ó soldadinho, por que vás todo a termer?
Deixa-me lá ó diabo, vou a minha amada ver.
Tua amada já é morta. Já é morta, bem na vi.
Dá-me os
sinais que levava, que me quero fiar em ti.
Levava vestido
d' ouro, camisa de carmesim.
Os
padres qu' àcompanhavam
não tinham
conto nem fim.
Forem
a abrir a cova
cá no centro do jardim,
a enxada era
de prata, o cabo de marafim.
Mas seja o que Deus
quiser, eu p'ra diente sempre vou.
A meio da
sua jornada,
um nuvraceiro
s' armou.
Não t'
espantes cavalo branco, cavalheiro que nele vem.
Aqui tens a tua amada que t' amou com grande bem.
Se tu és a minha amada, porque não olhas p'ra mim?
Os olhos com qu' eu te
via já de terra os enchi.
Se és a minha amada, beija-me agora aqui.
Os lábios com qu' eu te beijava, já a cor deles
perdi.
Vai-t' imbora,
vai-t' imbora,
vai-t' imbora
amor
eterno.
Já sinto por mim puxar
lá das cordas
do Inferno.
Eu hei-d' ir àquele outêro, eu àquele outêro hei-d' ir.
Tanta vez t' hê-de bradar, até que m' há-des acudir.
Com amizade.
Cortesia de Ruy Ventura
Publicada
no suplemento cultural Fanal, do jornal O Distrito de Portalegre, nº 1/JDACT