quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Para a História da Fundação. Para uma cronologia da Fábrica Robinson. 1848–1966. António Ventura. «Os reflexos na sociedade local ultrapassaram os aspectos económicos, projectando-se nos domínios do social, do cultural e até do mental. A actividade corticeira moldou a sociedade portalegrense ao longo de 150 anos. As chaminés da fábrica, se converteram, juntamente com a silhueta da Sé Catedral, num ex-libris da cidade»



Cortesia da fundacaorobinson e jdact

«Quando Thomas Reynolds (Sénior) morreu na Nova Zelândia, em 1867, estava longe de imaginar que a pequena oficina de preparação de cortiça que vendera, alguns anos antes, a um seu compatriota, George Robinson, na cidade de Portalegre, se iria converter numa referência na história da indústria portuguesa. A Fábrica de Cortiça Robinson foi durante século e meio um caso invulgar no panorama industrial português. Fundada pelo empresário inglês George Robinson, manteve ao longo do tempo uma laboração sem interrupções, sabendo sempre  renovar-se mau grado as naturais dificuldades conjunturais.
A sua história confunde-se com a história de Portalegre, do Norte Alentejano e da Indústria Corticeira Nacional. Essa história consubstancia-se num importantíssimo património histórico, com destaque para um rico espólio no campo da arqueologia industrial. A empresa conservou numerosas estruturas e equipamentos do século XIX, alguns em perfeito estado de funcionamento, apesar das renovações tecnológicas periódicas. Para além do seu interesse museológico, esse material tem uma valiosa dimensão pedagógica. Mas a história da Robinson não se reduz a essa componente material. Há que acrescentar ao arquivo da empresa outros acervos documentais espalhados por arquivos públicos e privados, tanto em Lisboa como em Portalegre, uma iconografia que compreende essencialmente fotografias e postais e também um património de histórias de vida de muitos operários ainda vivos, que têm toda uma vivência social e cultural que fizeram desta empresa um caso invulgar, diríamos quase ímpar, no panorama industrial luso dos últimos cento e cinquenta anos.
A ela estiveram associadas organizações de beneficência e de instrução, corporações de bombeiros, iniciativas culturais do maior alcance que ajudaram a fazer com que esta região seja o que é hoje. A história da fábrica confunde-se com a história de Portalegre. Os reflexos da vida da empresa na sociedade local ultrapassaram em muito os aspectos meramente económicos, projectando-se nos domínios do social, do cultural e até do mental. Podemos dizer que a actividade corticeira moldou a sociedade portalegrense ao longo de cento e cinquenta  anos e que as chaminés da fábrica, embora edificadas numa fase tardia, se converteram, juntamente com a inconfundível silhueta da Sé Catedral, num ex-libris da cidade.
O caso de George Robinson não é inédito entre nós. Já  no século XVIII se assinalam diversos industriais ingleses que se fixam em Portugal, o que continua a ocorrer na centúria seguinte, em especial no sector dos vinhos do Porto e da Madeira, havendo neste último caso diversos estudos sobre a influência inglesa na economia e na sociedade madeirense.  Mas só no século XIX alguns britânicos se interessaram por um sector tradicional, mas ainda longe da expansão que alcançará em meados de oitocentos, o corticeiro, como sucedeu com os Reynolds e depois com George Robinson.
Apresentamos a seguir uma breve cronologia da história da Fábrica de Cortiça Robinson. É um pálido reflexo de uma vivência mais que secular, mas ilustrativo da sua importância no passado, no presente e no futuro. George William Robinson nasceu em Wakefield, condado de York, Inglaterra, em 1815. A sua família tinha interesses ligados à importação de cortiça portuguesa, que era transformada em fábricas britânicas. George Robinson veio a Portugal para contactar directamente com o comércio corticeiro local, visitando diversas localidades do litoral, Moita, Setúbal, Sintra, dirigindo-se depois a Portalegre. Aqui, um seu compatriota, Thomas Reynolds, fundara em 1837 uma pequena oficina para transformação de cortiça numa parte do extinto convento de São Francisco, que ficara devoluto após a extinção das ordens religiosas decretada pelos liberais triunfantes em 1834 e que traçou um novo destino para o Convento de São Francisco, o mais antigo da cidade, uma vez que a sua fundação data do século XIII


1848 – George Robinson instalou-se em definitivo em Portalegre, acabando por adquirir a pequena fábrica de Thomas Reynolds. Era o início de uma empresa que, começando lenta mas seguramente, se converteria na maior unidade fabril da cidade. George Robinson possuía todas as condições para triunfar: um estabelecimento fabril com trabalhadores dotados de um know-how, uma região produtora de matéria-prima e, sobretudo, bons contactos em Inglaterra. Iria beneficiar, também, do aumento vertiginoso das exportações de cortiça. Se em 1797 Portugal exportara 115182 grosas de rolhas e 1331 toneladas de cortiça em prancha, após uma quebra decorrente das Invasões Francesas e  da Guerra Civil, a partir de meados do século XIX as exportações não mais pararam de subir, ascendendo em 1880 a mais de 2 000 contos de réis. Ora a Grã-Bretanha absorvia mais de 50% desse volume». In António Ventura, Fundação Robinson, Publicações da Fundação Robinson nº 0, 2007, p. 8-23, ISSN 1646-7116

continua
Cortesia da F. Robinson/JDACT