sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Escritores. São Tomé e Príncipe. Caetano da Costa Alegre. «… fazer uma breve contextualização histórica das “Ilhas Maravilhosas”, desde o descobrimento, o povoamento, o surgimento da burguesia local, a sua ascensão e a decadência dessa sociedade no século XIX, o papel que desempenhava, a introdução do ensino e o papel da missionação»


jdact e cortesia de wikipedia

«O objectivismo absorvente e a sujeição às regras do neoclassicismo serão postos de lado para dar lugar a um espírito individualista, caracterizado pela exaltação da própria personalidade do poeta romântico.

NOTA: A liberdade se manifestou em todos os sentidos: liberdade política, a vontade do rei deixou de ser soberana para o romântico; liberdade moral, a norma de moralidade não é construída pelos ditames da razão, muito menos pelas crenças religiosas, apesar de reconhecer a necessidade afectiva de Deus e da religião; liberdade nos sentimentos, o romântico deixava-se arrastar pelas emoções violentas.

Um das formas mais comuns do ponto de vista temático consiste em evadir-se no tempo e no espaço, refugiando no sonho e na fantasia, na orgia e na dissipação como forma de se evadir da sua angústia metafísica resultante do choque com a realidade concreta, uma vez que o romântico não está isento de espírito idealista. Por outro lado, a literatura romântica promove a exaltação do que é nacional, mas de raiz popular, não aristocrática, adquirindo um carácter cívico e patriótico, que tende a enveredar para o historicismo onde as figuras nacionais são tratadas com muito carinho. A concepção propriamente romântica, procura discernir as dissemelhanças entre os povos, destacando-as mesmo como formas de expressão de qualidades intrínsecas e determinantes da fisionomia de cada conjunto. Mas sem que de um modo geral e directo isso implique num enfoque negativo, deformador ou preconceituoso em relação a outros grupos, pois são justamente estas diferenças singulares que fazem da existência e da contribuição de cada organismo nacional uma componente única e complementar no processo humano.
E esse individualismo que vai assim surgindo, e que daremos a devida atenção no nosso trabalho, é muito importante porque leva, por um lado, a uma análise de tudo e, por outro lado, a uma caracterização cada vez mais pormenorizada, deixando de sublinhar o típico na arte para salientar o elemento característico, isto é, o que qualifica o ser dentro do contexto social e nacional. Esse individualismo constitui por certo uma grande mudança de enfoque no campo literário, aproximando de certo maneira o gosto do Romantismo da perspectiva realista, porque o romântico já se coloca numa óptica que divisa o indivíduo dentro de seu habitat sócio-histórico.
Superar as dissociações da cultura, transpor as divisões sociais, saltar por cima das particularizações geo-históricas serão, na perspectiva romântica, as vias de acesso ao estado natural do homem, à sua inocência idêntica. Procuraremos ver como a aspiração romântica, na sua busca da unidade, elementar, não se detém nas projecções utópicas sobre o plano do processo sócio-cultural e mesmo antropológico. No desenvolvimento que prossegue, ela tende a chegar às alturas da comunhão cósmica. Unir-se e fundir-se misticamente com o universo na sua ilimitação é o sentido pleno da grande síntese. Como o objectivo mais geral da nossa dissertação é a análise do romantismo como estética promotora da individualidade e da identidade nacional, tentaremos demonstrar como o romantismo se manifesta na literatura são-tomense. Evidenciaremos também as marcas que apontam que a literatura do país tem uma história que já vem do séc. XIX.
Sendo que o autor em estudo, Costa Alegre, foi um poeta muito inspirado, de grande qualidade, e que representa muito bem o seu tempo romântico e que explora também, e muito bem, o romantismo na afirmação de si, da sua identidade negra sem complexos, bem como a crítica vigorosa das ideias racistas nascentes, evidenciaremos nos poemas a serem analisados, as características mais marcantes desse movimento literário presente na sua poesia. Para a efectivação da nossa dissertação, começaremos pelo mais geral, por fazer uma breve contextualização histórica das Ilhas Maravilhosas, desde o descobrimento, o povoamento, o surgimento da burguesia local, a sua ascensão e a decadência dessa sociedade no século XIX, o papel que desempenhava, a introdução do ensino e o papel da missionação neste processo, etc.

Visão
Vi-te passar, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante;
Ias de luto, doce, tutinegra,
E o teu aspecto pesaroso e triste
Prendeu minha alma, sedutora negra;
Depois, cativa de invisível laço,
(o teu encanto, a que ninguém resiste)
Foi-te seguindo o pequenino passo
Até que o vulto gracioso e lindo
Desapareceu, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante.
In Caetano da Costa Alegre

A estagnação económica, política, social e cultural a que São Tomé e Príncipe esteve sujeito até ao século XIX será também revista, tendo sempre em conta o enfoque devido à comunidade humana que representa a cultura das ilhas. Contextualizaremos ainda, no Portugal no século XIX, as mutações sociais, económicas, políticas e culturais, o liberalismo, que interessam para o melhor entendimento do contexto cultural em que Caetano da Costa Alegre viveu e escreveu a sua obra». In Instituto Camões.

Cortesia de I. Camões/JDACT