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São
Frutuoso
«Integrada nas ampliações posteriores
do mosteiro de São Francisco, a pequena construção, que no século XVI ainda é
descrita como possuindo 22 colunas no seu interior, viria a ficar emparedada entre
as alas do convento, sendo redescoberta
em 1897 pelo arquitecto Ernesto
Korrodi. Na década de 30 do século XX, foi sujeito a um discutido projecto de
restauro orientado pelo arquitecto João de Moura Coutinho.
Considerado
como o mais importante e complexo exemplar de arquitectura cristã pré-românica
existente em território português, o mausoléu
de São Frutuoso já foi objecto de inúmeros estudos, continuando os
investigadores a dividir-se, na interpretação do modelo arquitectónico
dominante, entre visigotistas e moçarabistas.
Não ultrapassando os 13 metros em cada eixo, construído em sólido
aparelho de cantaria granítica, o mausoléu apresenta uma planta em cruz de
braços quadrados iguais, o do lado poente recto e com cobertura em abóbada de
canhão e os restantes três abrigando absides em arco de ferradura e cobertura
compósita. Ao centro eleva-se uma torre-lanterna, rematada por cúpula
semi-esférica em tijolo.
Interiormente
apresenta soluções arquitectónicas elaboradas, desde os arcos centrais das
absides com tímpanos tripartidos em arcos em ferradura, assentes em pares de
colunas e de impostas, de granito, calcário e mármore, todos com decoração em
folhas de acanto, tipo coríntio tardio, até à profusão de sapatas de colunas no
interior das absides, reveladoras da estruturação de um tecto de grande
complexidade formal, cujo arranque era marcado por um friso de calcário
decorado com flores-de-lis em semi-círculos.
Exteriormente, o
classicismo das formas é animado, nas absides, por frisos e filetes em
calcário, com decoração esculpida representando cordas, contas de rosário e
bandas de flores-de-lis inscritas em semi-círculos; no corpo central elevado,
para além dos frisos e filetes, sobressai o entablamento da cornija, decorado
com uma arcatura cega de tipo lombardo, em que alternam dois arcos em ferradura
com um arco em mitra. O arcosólio e o respectivo sarcófago patentes na fachada
setentrional da abside nascente são reconstituições propostas pelo arquitecto
Moura Coutinho.
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O contexto regional. Povoamento e organização do território no domínio
suevo e visigodo, séculos V-VIII
É aos bispos
bracarenses, especialmente S. Martinho
de Dume e S. Frutuoso,
que se deve uma organização territorial administrativa completamente
desenvolvida, com numerosas paróquias e igrejas privadas. E, ao contrário do
que a historiografia tradicional considerou, da documentação coeva,
designadamente das disposições conciliares, retira-se precisamente que os
séculos V, VI e VII foram um período de contínuo labor construtivo,
especialmente impulsionado pela Igreja, como confirmam os testemunhos materiais
que a arqueologia tem vindo paulatinamente a descobrir.
Este labor construtivo
depreende-se com clareza dos cânones conciliares de Braga, que testemunham a
proliferação de novos templos, cuja consagração importava regular e o cuidado
colocado pela hierarquia da Igreja na fixação de procedimentos que assegurassem
a conservação dos edifícios de culto.
No meio rural, nas proximidades de aglomerados populacionais de maior
ou menor importância, castra-castella,
vicus e villae, junto a antigos santuários ou em locais de
interesse colectivo, como centros mercantis, surgiram também igrejas, basílicas
e mosteiros, construídas por iniciativa do bispo, das comunidades locais ou por
vontade individual de um proprietário mais abastado, para além dos vestígios
seguros de templos na cidade de Braga e nos seus arredores, Dume, São Frutuoso e Falperra,
estão identificadas ruínas de um templo suévico ou visigótico na Costa
(Guimarães) e indícios muito prováveis de outros em Santa Eulália de Águas
Santas / Rio Covo e Banho (Barcelos), Facha (Ponte de Lima), Vila Mou (Viana do
Castelo), Antime (Fafe), São João de Rei (Póvoa de Lanhoso), Santa Maria de
Ferreiros (Amares), São João do Campo (Terras de Bouro) e Santo Adrião (Vizela)».
In Luís Fontes, A Igreja Sueva de São
Martinho de Dume, Arquitectura Cristã Antiga de Braga e na Antiguidade Tardia
do Noroeste de Portugal, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho,
Revista de História da Arte, 2008.
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