Cortesia de wikipedia
Descrição da tomada de posse de
José Relvas do ministério das Finanças, no dia 12 de Outubro de 1910
«Cargo que assumiu em
substituição de Basílio Teles, que tendo sido a primeira escolha do Partido
Republicano para ocupar a pasta, após a Revolução de 5 de Outubro de 1910
e a implantação da República, nunca assumiu as funções para que tinha
sido escolhido.
Nos primeiros dias depois da
proclamação da República manteve-se constantemente junto do Governo um grupo de
velhos republicanos. Nos Ministérios só os ministros eram novos; todo o pessoal
das secretarias era o mesmo que a Monarquia ali deixara. José Barbosa, [(1869-1923),
jornalista fundador do jornal republicano Pátria viveu no exílio de 1894 a 1908, sucessivamente em
Espanha, França e Brasil. Em 1910, o regime republicano nomeou-o director e
secretário-geral do Ministério do Interior, sendo eleito deputado nas Eleições
Constituintes de 1911. Aderiu ao Partido Evolucionista de António José de
Almeida, tendo feito parte do gabinete de Álvaro de Castro como ministro das
Colónias], que foi o primeiro director-geral do Ministério do Interior,
tomou posse do cargo alguns dias depois da Revolução;
no Ministério dos Estrangeiros não chegou a fazer-se substituição dos funcionários
superiores.
Ainda hoje são
os mesmos que serviam o antigo regime!
Só Afonso Costa e Correia Barreto [(1853-1939), oficial de artilharia em 1869,
publicou um estudo sobre pólvora em 1885 que fez com que fosse encarregue de
criar munições com pólvora sem produção de fumo. Sendo conhecidas as suas
ideias republicanas foi nomeado para director da Fábrica de Pólvora, para o
Conselho de Administração Militar e para o Depósito Central de Fardamentos. O
almirante Cândido dos Reis convidou-o para a comissão organizadora da revolução
de 1910, tendo sido nomeado ministro da Guerra do governo provisório, ainda com
o posto de coronel. Foi o responsável pela criação dos Pupilos do Exército, e
pela reforma republicana do Exército. Eleito para a Constituinte, foi senador
em todas as legislaturas até 1926. Foi ministro da guerra no governo Duarte
Leite, tendo presidido à Câmara Municipal de Lisboa]. se fizeram cercar sem
demora de autênticos republicanos. Afonso
Costa procedeu muito conscientemente e de modo próprio; Correia
Barreto aceitou a situação que
lhe criaram os oficiais revolucionários, que foram chamados os jovens turcos. No Ministério da
Marinha, Azevedo Gomes manteve na direcção-geral Eusébio da Fonseca,
personagem eminentemente funesto, como teremos ocasião de verificar quando
referir como se fez a reforma dos serviços desse Ministério. No Fomento, António
Luís Gomes , inalteravelmente preocupado com escrúpulos de legalidade na
obra revolucionária, julgava ofender direitos destituindo os directores-gerais,
e por isso os deixou nos seus postos! O Ministério das Finanças estava
interinamente dirigido por Bernardino Machado, enquanto não chegava Basílio
Teles, esperado todos os dias e solicitado incessantemente não só pelos
enviados do Governo, mas também por Duarte Leite e outros republicanos, que
foram ao Porto convencê-lo da urgência da sua vinda. Inúteis tentativas, que
todas se malograram perante a abstenção que vinha constituindo o seu programa
desde a eleição de Setúbal, em que fora investido na função de membro do
Directório! Para justificar a demora alegava vagas razões, e por último
reclamou o tempo necessário para rever as provas do Livro de Job! Quando referiram a Junqueiro este pretexto o
grande poeta e ironista exclamou:
- Não é o Livro de Job que ele precisa corrigir; é o Livro de Cresus.
No grupo, a que me referi, havia
verdadeira inquietação causada por tão injustificável ausência. Todos
reconheciam a necessidade de prover definitivamente o Ministério das
Finanças em pessoa que inspirasse confiança nos meios financeiros,
nacionais e estrangeiros. Sem dúvida Basílio Teles merecia-a, a sua
reputação de integridade moral, incontestavelmente bem fundada, e a competência
profissional que lhe atribuíam os conhecimentos económicos e financeiros
revelados nos seus livros, eram suficientes para que o seu nome fosse acolhido
com a mais benévola expectativa.
A disposição das praças do País e a
atmosfera feita em Paris e Londres facilitavam os primeiros passos do ministro
das Finanças. Na imprensa alemã não transparecia desconfiança alguma, e
pode dizer-se que a única nota discordante foi dada por alguns jornais de
diversos países, naturalmente hostis ao novo estado político de Portugal,
insistindo nos perigos que viriam mais tarde a ameaçar a integridade do domínio
colonial português. Em Paris, Martins Weinstein fizera espontaneamente a
mais lisonjeira campanha a favor da República,
garantindo aos principais banqueiros franceses, ingleses e alemães, a execução
dos compromissos nacionais, a segura salvabilidade dos nossos encargos internos
e externos, e a confiança pessoal com que deviam ser recebidos os novos homens
públicos do País, concorrendo por essa forma para consolidar o efeito moral da campanha
que tínhamos feito, Magalhães Lima, Alves da Veiga e eu. O apoio
decidido do Economist,
de Londres, representou um factor considerável. À desagradável tradição que nos
privava do concurso eventual de Rotschild podíamos felizmente opor o
crédito que íamos ter na casa Hambro.
A demora de Basílio, porém,
inutilizava em parte tão bons auspícios. Assim o sentiam os homens mais ligados
ao Governo e assim o manifestavam claramente alguns financeiros de Lisboa e
Porto. Martins Weinstein trazia-me bem informado da impressão
estrangeira. Na manhã de 11 de Outubro
tive de procurar Afonso Costa para lhe falar em qualquer assunto que
interessava a marcha do Governo; encontrei-o com Bernardino Machado no
gabinete do Ministério das Finanças. Deram ambos por muito oportuna a
minha presença, porque estavam lamentando a abstenção de Basílio Teles e
reconhecendo a urgência da sua imediata substituição. Disseram que tinham deliberado confiar-me aquele posto, afirmando
que naquele momento o meu nome se lhes impunha, e, como eu desenhasse um gesto
de negativa, Afonso Costa alegou as circunstâncias ocorrentes, apelando
para o meu patriotismo que me não consentiria a escusa de prestar um novo e relevante serviço à República». In Portugal - Dicionário Histórico, Páginas
Pessoais, Wikipédia.
continua
Cortesia
de Wikipédia/JDACT