segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Inquisição de Évora. Dos Primórdios a 1668. António Borges Coelho. «… o trabalho maior até agora desenvolvido deve-se aos historiadores da primeira metade do nosso século, entre eles Joaquim Mendes dos Remédios “Os Judeus Portugueses em Amesterdão”, ainda do século anterior, e “Os Judeus em Portugal”»

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«No século XVIII, Barbosa Machado organizou listas gerais dos penitentes e relaxados nos autos-da-fé, celebrados pelas diferentes Inquisições (malditas) do reino enquanto o dominicano frei Pedro Monteiro publicava a sua Notícia Geral das Santas Inquisições Deste Reino e Suas Conquistas, Ministros e Oficiais de Que cada Uma Se Compõem. No outro quadrante, o das vítimas, destacam-se as Memórias da Literatura Sagrada dos Judeus, de António Ribeiro dos Santos, os Cristãos-Novos e Cristãos-Velhos em Portugal, do médico e filósofo Ribeiro Sanches, e o sucesso de Notícias Recônditas. Alguns autores têm procurado desacreditar a sua veracidade, mas o esforço tem sido vão para lá de correcções pontuais.
Só no século XIX deparamos com o primeiro trabalho historiográfico de fôlego:
  • a clássica História da Origem e do Estabelecimento da Inquisição em Portugal, de Alexandre Herculano.
Há que assinalar ainda a Memória sobre os Judeus em Portugal (1823), de Ferreira Gordo a recolha documental efectuada por António Joaquim Moreira, recolha de que a sua História dos Principais Actos e Procedimentos da Inquisição em Portugal nos dava uma pálida imagem. Mas, no que ao avanço da investigação se refere, o trabalho maior até agora desenvolvido deve-se aos historiadores da primeira metade do nosso século, entre eles Joaquim Mendes dos Remédios Os Judeus Portugueses em Amesterdão, ainda do século anterior, e Os Judeus em Portugal; João Lúcio de Azevedo História dos Cristãos-Novos Portugueses, e sobretudo António Baião antigo director do Arquivo Nacional, autor de numerosos opúsculos e de obras fundamentais como A Inquisição em Portugal e no Brasil, a Inquisição de Goa e Episódios Dramáticos da Inquisição Portuguesa. Há que referenciar igualmente, embora não especificamente sobre a Inquisição Portuguesa, a History of the Inquisition in Spain (1906-1908), de Henry Charles Lea, a History of the Marranos (1932), de Cecil Roth, e a obra Los Judíos en la España Moderna y Contemporânea (1960), de Julio.Caro Baroja.
Os anos 60 e 70 deste século ficaram marcados pela síntese Inquisição e Cristãos-Novos, de António José Saraiva, e os rigorosos trabalhos de pesquisa de I. S. Révah e muitos outros.
Nos dias de hoje assistimos em Portugal e no Brasil a um interesse crescente pelo estudo do riquíssimo espólio do Inquisição (maldita) portuguesa. Do esforço europeu voltado para o estudo das diferentes inquisições à luz de moderna metodologia, salientamos os trabalhos do grupo de investigadores que se reuniu em Setembro de 1978 em Cuenca, no I Symposíum Internacional sobre la Inquisición Española, intervenções publicadas por Joaquin Perez Villonueva em La Inquisición Española. Nueva Vision. Nuevos Horizontes, Madrid, 1980.

O estudo específico da Inquisição (maldita) de Évora está por fazer. Que saibamos, até Túlio Espanca lhe dedicou um breve artigo em A Cidade de Évora Que caminho seguir? Prosseguir no método de pesca à linha, usando as palavras de António José Saraiva, ou seria possível encontrar informações repetitivas, objectivamente mensuráveis, e fontes documentais passíveis de uma abordagem totalizante? A existência, na sala dos índices do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, de verbetes, referentes a todos os processos da Inquisição (maldita) de Évora, com informações repetidas sobre cado preso, lançaram o autor destas linhas na ideia de que era possível uma perspectiva totalizante de abordagem e pelos caminhos objectivos abertos pelos métodos quantitativos.
O trabalho aqui está. Erguido o edifício quantitativo, completamos a sua interpretação com informações recolhidas na leitura de cerca de um milhar de processos das três Inquisições (malditas) do reino em que se incluem todos os processos dos condenados à fogueira em Évora; cerca de 15 000 páginas manuscritas (todas as páginas) dos 15 cadernos do Promotor da Inquisição de Évora; livros de denúncias e de contas; livros, regimentos, cartas, repertórios, relatórios do Conselho Geral; milhares de folhas manuscritas e impressas do espólio António Joaquim Moreira, existente na Biblioteca Nacional de Lisboa; documentos do Arquivo da Biblioteca Pública de Évora; documentos da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa». In António Borges Coelho, Inquisição de Évora, dos Primórdios a 1668, volume 1, Editorial Caminho, colecção Universitária, Instituto Português do Livro e da Leitura, 1987.

continua
Cortesia Caminho/JDACT