quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A Voz do Silêncio. Helena Blavatsky. «Uma mulher notável, que leu, viu e pensou mais do que a maioria dos homens sábios do seu tempo. Ensina a ouvir tudo o que vem do interior humano como um verdadeiro guia para a vida. “Abalou-me a um ponto que eu julgaria impossível”»


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Aos Poucos
«As páginas seguintes são extraídas do Livro dos Preceitos de Ouro, uma das obras lidas pelos estudiosos do misticismo no Oriente. O seu conhecimento é obrigatório naquela escola cujos ensinamentos são aceites por muitos teosofistas. Por isso, como sei de cor muitos destes preceitos, o trabalho de os traduzir foi para mim tarefa fácil. É bem sabido que na Índia os métodos de desenvolvimento psíquico divergem segundo os gurus, professores ou mestres, não só porque eles pertencem a diferentes escolas filosóficas, das quais há seis, mas também porque cada guru tem o seu sistema, que em geral mantém cuidadosamente secreto. Mas, para além dos Himalaias, não há diferença de métodos nas escolas esotéricas, a não ser que o guru seja simplesmente um lama, pouco mais sabendo do que aqueles a quem ensina.
A obra de onde são os trechos que traduzo forma parte da mesma série de onde são tiradas as estrofes do Livro de Dzyan, sobre que A Doutrina Secreta se baseia. Juntamente com a obra mística chamada Paramartha, a qual, segundo nos diz a lenda de Nagarjuna, foi ditada ao grande Arhat pelos nagas ou serpentes, nome dado aos antigos iniciados, o Livro dos Preceitos Áureos invoca a mesma origem. As suas máximas e conceitos, porém, por nobres e originais que sejam, encontram-se muitas vezes, sob formas diversas, em obras sânscritas, tais como o Jnaneshewari, esse soberbo tratado místico em que Krishna descreve a Arjuna, em cores brilhantes, a condição de um iogue plenamente iluminado; e ainda em certos upanixades. Isto, afinal, é naturalíssimo, visto que quase todos, senão todos, os maiores arhats, os primeiros seguidores do Gautama Buda, foram hindus e árias, e não mongóis, sobretudo aqueles que emigraram para o Tibete. As obras deixadas apenas por aryasanghas são, por si só, numerosíssimas.
Os preceitos originais estão gravados sobre lâminas oblongas delgadas; as cópias, muitas vezes, sobre discos. Estes discos ou chapas são geralmente conservados nos altares dos templos ligados aos centros onde estão estabelecidas as chamadas escolas contemplativas ou Mahayana (Yogacharya). Estão escritos de diversas maneiras, às vezes no idioma tibetano, mas principalmente em idéografos. A língua sacerdotal (senzar), além de por um alfabeto seu, pode ser traduzida em várias maneiras de escrita em caracteres cifrados, que têm mais de ideogramas do que de sílabas. Um outro método, lug, em tibetano, é o de empregar os números e as cores, cada um dos quais corresponde a uma letra do alfabeto tibetano, trinta letras simples e setenta e quatro compostas, formando assim um alfabeto criptográfico completo. Quando se empregam os idéografos há uma maneira certa de ler o texto, pois, neste caso, os símbolos e os sinais usados na astrologia, isto é, os doze animais zodiacais e as sete cores primárias, cada uma tripla no seu matiz (claro, primário e escuro), representam as trinta e três letras do alfabeto simples, formando palavras e orações.
Porque, neste método, os doze animais, cinco vezes repetidos e juntos aos cinco elementos e às sete cores, compõem um alfabeto completo de sessenta letras sagradas e doze signos. Um signo posto no princípio de um parágrafo indica se o leitor tem de soletrar segundo o modo índio, em que cada palavra é apenas uma adaptação sânscrita, ou segundo o princípio chinês de ler os ideógrafos. O método mais fácil é, porém, aquele que não deixa o leitor empregar qualquer língua especial, ou o que quiser, visto que os sinais e os símbolos eram, como os números ou algarismos arábicos, propriedade comum e internacional entre os místicos iniciados e os seus seguidores. A mesma peculiaridade é característica de uma das maneiras chinesas de escrever, que pode ser lida com igual facilidade por qualquer pessoa conhecedora dos caracteres: por exemplo, um japonês pode lê-la na sua língua tão prontamente como um chinês na sua.


O Livro dos Preceitos Áureos, alguns dos quais são pré-budísticos, ao passo que outros pertencem a uma época posterior, contém uns noventa pequenos tratados distintos». In Helena Petrovna Blavatsky, The Voice of The Silence, A Voz do Silêncio, tradução de Fernando Pessoa, Editorial Presença, 2012, ISBN 978-989-8470-49-2.

Cortesia de Presença/JDACT