terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Blasfémia. Douglas Preston. «Só um momento, pronunciou Volkonsky, curvando-se sobre a estação de trabalho do supercomputador. Isabella estar..., lenta»

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Julho
«(…) Dolby sentiu o coração acelerar. Premiu os botões com os seus dedos araneiformes, ajustando-os com a leveza de um pianista. Prosseguiu com uma série de comandos golpeados no teclado. Contacto. Os enormes ecrâs planos a toda à volta despertaram repentinamente. Um súbito ruído cantado parecia flutuar no ar, vindo de todo o lado e de lado nenhum ao mesmo tempo.O que é isso?, perguntou Mercer, alarmada. Um bilião de partículas a passar pelos detectores, disse Dolby. Desencadeia uma vibração elevada. Céus, parece o monólito no 2001. Volkonsky guinchou como um macaco. Toda a gente o ignorou. Uma imagem apareceu no painel central, o Visualizador. Dolfy fixou-se nela, arrebatado. Assemelhava-se a uma enorme flor, trémulos jactos de cor difundindo-se a partir de um único ponto, retorcendo-se e serpenteando, como que a tentar libertar-se do ecrã. Permaneceu pasmado diante da sua beleza. Contacto bem sucedido, disse Rae Chen. Os feixes estão focados e colimados. Meu Deus, é um alinhamento perfeito! Vivas e algumas palmas secas e breves. Senhoras e senhores, pronunciou Hazelius, bem-vindos às margens do Novo Mundo. Gesticulou para o Visualizador. Estão a olhar para uma densidade de energia nunca vista no universo desde o Big Bang. Voltou-se para Dolby. Ken, por favor aumenta a potência em incrementos de décimas até noventa e nove. O som etéreo aumentou ligeiramente enquanto Dolby manipulava o teclado. Noventa e seis, disse. Luminosidade dezassete vírgula quatro TeV, disse Chen. Noventa e sete... Noventa e oito. A equipa mergulhou num tenso silêncio, sendo o único som audível o murmúrio que ocupava a sala de comando subterrânea, como se a montanha em redor deles estivesse a cantar. Feixes ainda focados, disse Chen. Luminosidade vinte e dois vírgula cinco TeV. Noventa e nove. O rumor de Isabella havia-se tornado ainda mais alto, mais límpido. Só um momento, pronunciou Volkonsky, curvando-se sobre a estação de trabalho do supercomputador. Isabella estar..., lenta. Dolby voltou-se bruscamente. Nada de errado, com o hardware. Deve ser mais uma avaria no software.  Software não ter problema, esclareceu Volkonsky.
Talvez devêssemos pará-la aqui, disse Mercer. Existe algum indício da criação de um micro buraco negro? Não, retorquiu Chen. Nem sinal de radiação Hawking. Noventa e nove vírgula cinco, indicou Dolby. Estou a registar um jet carregado a vinte e dois vírgula sete TeV, disse Chen. De que tipo?, inquiriu Hazelius. Uma ressonância desconhecida. Vê. Dois lobos vermelhos e reluzentes haviam-se desenvolvido em cada um dos lados da flor, no ecrã central, como as orelhas de um palhaço crescendo descontroladamente. Difusão forte, disse Hazelius. Gluões, talvez. Poderá ser indício de um gravitão de Kaluza-Klein. Impossível, proferiu Chen. Não com esta luminosidade. Noventa e nove vírgula seis. Gregory, acho que devíamos estabilizar a potência aqui, disse Mercer. Estão a acontecer muitas coisas ao mesmo tempo. É natural que estejamos a ver ressonâncias desconhecidas, disse Hazelius, num tom de voz não mais alto do que o dos demais, mas de certo modo distinto de todos eles. Estamos em território desconhecido. Noventa e nove vírgula sete, entoou Dolby. Tinha confiança absoluta na sua máquina. Podia levá-la aos 100 por cento e ainda mais acima, se necessário. Deixava-o em frenesim saber que naquele instante estavam a chupar quase um quarto da eletricidade da Barragem Hoover. Esse era o motivo pelo qual tinham de fazer os seus ensaios a meio da noite, quando o uso de energia era menor. Noventa e nove vírgula oito. Temos aqui uma espécie de interacção desconhecida mesmo grande, disse Mercer. Qual ser problema, cabra?, gritou Volkonsky para o computador. Acreditem no que vos digo, estamos a entrar num espaço de Kaluza-Klein, disse Chen. É incrível. Começou a aparecer estática no grande ecrã plano com a flor. Isabella estar portar-se estranho, anunciou Volkonsky. Como assim?, disse Hazelius a partir da sua posição no centro da Sala de Controlo. Brincalhão. Dolby revirou os olhos. Volkonsky era irritante até mais não. Todos os sistemas passam pelo meu painel de controlo. Volkonsky digitou furiosamente no teclado; emm seguida, praguejou em russo e golpeou o monitor com a palma da mão. Gregory, não achas que devíamos desligar?, perguntou Mercer. Dá-lhe mais um minuto, respondeu Hazelius. Noventa e nove vírgula nove, indicou Dolbv. Durante os cinco minutos anteriores, a sala passara de sonolenta a híper-desperta, exaltadamente tensa. Apenas Dolby se sentia relaxado. Concordar com a Kate, disse Volkonsky. Eu não gostar forma como Isabella porta-se. Começarmos sequência de desligar». In Douglas Preston, Blasfémia, 2007, Edições Saída de Emergência, 2010, ISBN 978-989-637-201-9.

Cortesia de SEmergência/JDACT