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Época
romana
«(…)
Mais recentemente, Marques Faria continua a pôr a hipótese de Dipo, onde se cunharam
asses no século II a.C., ter-se localizado perto de Elvas. A zona de Elvas era atravessada
por uma das principais vias da Lusitânia, que ligava a capital administrativa
da província com o litoral, mais concretamente Emerita Augusta com Salacia (o autor
refere a descoberta, na herdade de Alcobaça que se encontra na freguesia da Terrugem,
de um marco miliário que indica a milha 65ª, o que equivale, sensivelmente, aos
95 Km que separam a referida localidade da antiga capital da Lusitânia romana).
Jorge Alarcão que reviu de forma sistemática o traçado das principais vias de
época romana que atravessavam Portugal, não deixa de fazer coincidir com a zona
de Elvas o entroncamento de estradas que, vindo de Mérida, se dirigiam para o Ocidente,
mais concretamente para Olisipo (Mérida é o nó fundamental que permite a compreensão
do papel da região de Elvas no contexto das estradas que, a partir de época romana,
se dirigem daquela cidade para ocidente). Uma delas dirigia-se para Évora; a outra,
à qual a região de Elvas se ligaria por um ramal, seguia em direcção a Alter do
Chão, e depois para Santarém. Na região de Elvas não faltam vestígios de época romana.
Trabalhos de índole arqueológica, realizados no século passado e na primeira metade
da presente cenúria revelaram muitos vestígios de ocupações desta época (é de
salientar que, a nível regional, a zona de Elvas está rodeada por uma zona mais
vasta que, grosso modo, vai de Évora à antiga cidade da Ammaia, S. Salvador da
Aramenha, Marvão, onde a implantação de estações romanas tem algum relevo), havendo
a destacar o aparecimento de pavimentos em mosaico em Vila Fernando, em Alfarófia,
junto ao Caia, (não muito longe de Alfarófia, na herdade das Caldeiras, junto ao
Caia, foi encontrada há poucos anos uma nova inscrição romana, de tipo funerário),
na Quinta das Longas (onde, desde há poucos anos, decorrem campanhas arqueológicas
sistemáticas) e na Torre de Cabedal (que desde as reformas administrativas do século
passado passou a pertencer ao concelho de Vila Viçosa, fez parte no período
medieval cristão, do alfoz de Elvas) que, em alguns casos, passam por estruturas
hidráulicas (na herdade do Carrão, situado na zona oeste do concelho, junto a Vila
Fernando, foram encontrados vestígios, cronologicamente variados, de edifícios,
cerâmicas, moedas e restos de duas represas; quanto às cerâmicas, alguns formas
são do séc. I d.C.; as moedas são quase exclusivamente do Baixo Imperio e os
restos das duas represas ainda eram aproveitadas na década de 50 deste século; na
herdade de Chaminé, perto da Atalaia dos Sapateiros, na mesma freguesia, foram também
encontrados abundantes vestígios deste período; em outras freguesias do concelho
de Elvas não faltam os vestígios da ocupação romana; é o que se pode constatar
a norte da Terrugem, junto de Torre de Ovilheira, Sto Ildefonso, em S. Rafael,
junto ao Guadiana, pouco a norte de Juromenha e na freguesia de Vila Boim». Alguns
dos que aqui viveram e faleceram vieram de longe (um tal Gaio Axónio, natural
de uma colónia romana da zona do Adriático, foi sepultado nesta região; Gaio
Axónio, recordado em Elvas, nasceu em Firmum Picenum, colónia situada junto à costa
adriática, hoje Fermo). Em várias zonas do termo de Elvas, foram encontradas
necrópoles, tanto de incineração (na herdade do Padrão, freguesia da Ajuda, muito
perto do caminho que se dirige para Juromenha, foi descoberta uma necrópole de
incineração, da qual se exploraram, até 1953, 22 sepulturas de que se obteve
abundante e importante espólio; cerca de 5 Km a Norte de Elvas, na Horta das
Pinas, freguesia de S. Vicente, foi encontrada uma necrópole de incineração na
qual foram exploradas 61 tumulações, nas quais há a referir o aparecimento
quase constante de armas nessas sepulturas; na horta da Serra, freguesia S.. Brás,
para além de uma necrópole de incineração encontraram-se vestígios construtivos
possivelmente da mesma época romana), como de inumação (uma necrópole romana de
inumação, encontrada na herdade da Camuge, freguesia de Vila Boim, revelou duas
lápides com inscrições a3) ou até mistas (a herdade de Torre das Arcas revelou
uma extensa necrópole de incineração e de inumação de que foram exploradas
quase oito dezenas; também na zona de Vila Fernando, mais concretamente na
herdade de Serrones, se encontrou uma necrópole de incineração, de que se
escavaram 72 tumulações, com abundante espólio; contudo, neste sítio
arqueológico também se encontraram inumações, pobres a nível de espólio; encontrou-se
na região de Elvas uma tampa de sarcófago, decorada com um baixo-relevo com um putto
funerário, datável dos séculos I a.C. ou I d.C.; junto a Elvas têm sido encontradas
algumas inscrições romanas; curiosamente, pelo menos duas delas dizem respeito a
indivíduos do sexo masculino que faleceram com mais de 70 anos de idade).
Um dos
componentes da ocupação romana que é de destacar é o da hidráulica. Embora o estudo
dos sistemas hidráulicos das várias villae romanas encontradas em Elvas esteja
por fazer, foram localizados, nas suas imediações, vários vestígios de sistemas
hidráulicos datando de época romana (a construção de barragens é apenas um dos
aspectos da nova tecnologia introduzida pelos Romanos; mas, ao contrário do que
muitas vezes se supõe, os Romanos não exploraram apenas as águas de pé,
deixando aos Árabes a introdução do poço e dos sistemas de elevação das águas profundas;
os vestígios de poços romanos são frequentes), tendo-se detectado, até ao momento,
três construções desta época (trata-se das barragens de Moralves e do Carrão e do
conjunto tanque, canal subterrâneo e aqueduto do Correio-Mor). E difícil dizer de
quando data a construção (só a título comparativo e sem querer fazer qualquer
género de extrapolações, refira-se que a chamada barragem de Proserpina, em Mérida,
se considera datar do século II d.C.) destas estruturas hidráulicas e saber até
quando estiveram em utilização. No entanto, tem aceitação a hipótese de que estes
sistemas possam ter continuado em utilização após o fim do Império Romano do Ocidente
(os Visigodos teriam tido consciência da necessidade da rega e do controlo da água
em Espanha e teriam usado as estruturas legadas pelos Romanos; lembram que o Liber
Judiciorum não esquece a prescrição de penalidades para quem utiliza mal a água;
já quanto ao domínio islâmico, atribuem aos muçulmanos unicamente a construção de
pequenas barragens de derivação [açudes?] em rios com regime de caudais
adequados e nunca barragens para criar albufeiras de armazenamento; contudo, tal
não significa que se não tivessem utilizado, pontualmente, estruturas romanas já
existentes e úteis; por outro lado, a existência de elementos que comprovam a construção
de barragens para armazenamento, em Espanha, no século XIII, pode significar que
na Baixa Idade Média teria voltado a haver um interesse na utilização de
estruturas deste tipo)». In Fernando Branco Correia, Elvas na Idade
Média, Edições Colibri, CIDEHUS, Universidade de Évora, 2013, ISBN
978-989-689-365-1.
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