sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Os Abutres do Vaticano. Eric Frattini. «As cartas de Adolfo Nicolás e do casal Brenninkmeijer foram recebidas em meados de Novembro, mesmo na altura em que se começavam a definir os nomes dos bispos que seriam elevados ao grau de cardeal»

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Uma chamada de atenção do papa Negro ao papa Branco
«(…) Contudo, é muito mais do que isso: trata-se de uma clara chamada de atenção do papa negro ao papa de Roma. O que mais me impressiona, quando falo com eles, é o seu sincero e profundo amor para com a Igreja e para com o Santo Padre e também o seu compromisso em fazer algo que possa influenciar naquilo que consideram uma grave crise na Igreja. E dois parágrafos mais abaixo: partilho as preocupações do senhor e da senhora Brenninkmeijer. De facto, este é o principal ponto de inflexão. Tanto a carta de Nicolás como a carta escrita pelos Brenninkmeijer constituem uma clara acusação contra a cúria do Vaticano, em particular, e contra a hierarquia católica no geral. No texto que dirigiram ao papa, os Brenninkmeijer denunciam o papel do dinheiro em muitos departamentos da Igreja e fazem uma crítica aberta ao Conselho Pontifício para a Família, o qual acusam de se servir de colaboradores demasiado ingénuos e acríticos, em vez de empregar pessoas que possam e queiram agir no sentido determinado pelo Concílio Vaticano II. Depois de um comentário sincero sobre a grande quantidade de crentes europeus cultos que abandonam a Igreja, embora não abandonem a sua fé, Huber e Aldegonde Brenninkmeijer concentrarem o seu ataque no jovem arcebispo de Utreque, Willem Jacobus Eijk. Os leigos rotulam no de conservador, tanto no campo teológico litúrgico como no da moral. Eijk tornara-se famoso na Holanda devido às suas declarações explosivas sobre a homossexualidade, o consumo de drogas, a união de facto, a manipulação genética ou a eutanásia (monsenhor Eijk baseara a sua tese de doutoramento em Medicina e Filosofia nestes últimos dois aspectos).
As cartas de Adolfo Nicolás e do casal Brenninkmeijer foram recebidas em meados de Novembro, mesmo na altura em que se começavam a definir os nomes dos bispos que seriam elevados ao grau de cardeal no consistório de 18 de Fevereiro do ano seguinte. Nessa lista constava o nome de Eijk. Ao que parece, segundo alguns vaticanistas, a única coisa que estas cartas conseguiram foi reforçar e posição de Ratzinger no que dizia respeito ao seu apoio ao conservador monsenhor Willem Jacobus Eijk. De facto, fazendo caso omisso dos dois escritos, Bento XVI entregou o barrete cardinalício a Eijk, confirmou-o como membro da Congregação para o Clero e, como se isso não bastasse, nomeou-o membro da importante Congregação para a Educação Católica. Talvez. Bento XVI tivesse visto na carta do geral dos jesuítas uma clara interferência na sua liderança. Certo é que, apesar dos conselhos de Nicolás e do casal Brenninkmeijer, o papa reforçou a posição dos conservadores numa sede como a de Utreque. Sua Eminência o cardeal Eijk, fiel seguidor do cardeal Bertone, representa o que já muitos definiram como a juventude neoconservadora entre os mais antigos membros da cúria e do Sacro Colégio Cardinalício». In Eric Frattini, Os Abutres do Vaticano, 2012, tradução de Pedro Carvalho, Bertrand Editora, Lisboa, 2013, ISBN 978-972-252-598-5.

Cortesia de BertrandE/JDACT