quarta-feira, 1 de maio de 2013

Breve Notícia sobre o Descobrimento da América. Teixeira de Aragão. «O papa era o juiz supremo dos estados cristãos e raras vezes deixava de se acatar a sua autoridade, contudo o rei João II de Portugal protestou contra a partilha, (…) e esta oposição deu origem ao celebre “Tratado de Tordezilhas”, assinado em 7 de Junho de 1494»

jdact e cortesia de wikipedia

NOTA: Conforme o original

(Continuação)

A América Antecolombiana
«Magalhães respondeu-lhe nobremente, como homem que nada receia pelos seus actos, e que possuía o valor necessário para fazer manter a disciplina na armada que lhe haviam confiado. Chegando ao Cabo de Santa Maria, que João de Lisboa descobriu em 1514, foram tomar agua e lenha no rio de S. João, e ahi se revoltaram os dois capitães João de Cartagena e Luiz de Mendoça. O plano era matarem o capitão-mór, tomarem o dinheiro e fazenda, que sonegariam, e voltando para Hespanha accusarem Magalhães de os levar vendidos e enganados. O capitão-mór, que estava de prevenção, tomou logo medidas repressivas, mandando o meirinho Ambrósio Fernandes, acompanhado de seis homens escolhidos, os quaes com artimanhas lograram entrar no navio de Luiz de Mendoça, a quem subitamente deram a voz de preso, e pela sua resistência o degolou o dito Ambresio. Magalhães veiu preste em soccorro dos seus, a bordo mandou enforcar nas vergas seis homens que se haviam tornado mais salientes, e deu o commando do navio a seu cunhado Duarte Barboza, portuguez. A nau de Cartagena, solta do ferro, foi abalroar com a do capitão-mór, donde resultou ser preso o chefe da revolta, João de Cartagena, mandado esquartejar com pregão de traidor, e os seus cúmplices encarcerados nas bombas. A nau foi entregue a Álvaro de Mesquita que havia sido contrario ao alevanlamento.
Supplantada a conspiração e concertados os navios, seguiu avante deixando desterrados nas margens do rio alguns dos revoltosos e navegou ao longo da costa até ao rio, a que poz o nome de Victoria, donde lhe desertou a nau de Álvaro de Mesquita. Magalhães com os tres navios restantes caminhou pelo rio mais de cem léguas até sahir ao mar largo, onde, com o levante á popa, andou mais de cinco mezes, indo ter a umas ilhas, sendo uma d'ellas povoada de selvagens com quem ligou trato de amizade, ajudando-os a desbaratar um rei vizinho que os guerreava e fazendo troca de objectos insignificantes por oiro. Passados alguns dias, o rei vencido fez particularmente propostas ao rei vencedor e combinaram que este ultimo convidasse os chefes christãos a um grande banquete onde seriam todos mortos. Fernando de Magalhães com trinta dos principaes tripulantes cahiu na cilada e ahi foram todos traçoeiramente trucidados. Os que ficaram nas naus, sabedores do morticínio, e sem poderem soccorrer nem vingar as victimas deitaram fogo a um dos navios, que fazia muita agua e navegaram para o largo. Um tal Carvalhinho, piloto da capitania foi arvorado por comandante das duas naus, resto das cinco de que se compunha a expedição e foram parar a Borneo donde passaram a Moluco e a Ternate. Ahi João de la Rosa substituiu no mando o Carvalhinho, e depois de muitas contrariedades conseguiu chegar com uma das naus a Hespanha, em 1521, com treze homens de tripulação (Na companhia de Magalhães foi como piloto João Rodrigues Carvalho que provavelmente é aqui designado por Carvalhinho. Gaspar Correia diz ser portuguez João de la Rosa).
Os contractos dos reis de Castella com Fernando de Magalhães e o bacharel Ruy Faleiro, são datados de março de 1518, e existe delles copia authentica d'aquella epocha no archivo da Torre do Tombo. Depois do descobrimento da America por Christovam Colombo e a instancias suas pediu a Hespanha ao papa outra demarcação de limites que lhe garantisse as novas possessões, e Alexandre VI, pela bulla de 4 de maio de 1493
determinou para direito de descoberta uma linha imaginaria que partia das ilhas dos Açores e Cabo Verde, dividindo o globo de norte a sul em partes eguaes, ficando pertencendo a de leste a Portugal e de oeste á Hespanha…
  • Omnes insulas et terras firmes inventas et inveniendas, detectas et detegendas versus occidentem et merediem, fabricando et constituendo unam lineam a polo árctico ad polum antarcticum, quae linea distet a qualibet insularum quae vulgariter nuncupantur de los Azores et Cabo Verde centum leucis versus occidentem et meridiem…
O papa era o juiz supremo dos estados christãos e raras vezes deixava de se acatar a sua auctoridade, comtudo D. João II protestou contra a partilha, não se conformando com a direcção da nova linha divisória, e esta oposição deu origem ao celebre tratado de Tordezilhas, assignado em 7 de junho de de 1494, onde ficou assente entre as duas coroas que a linha divisória passaria a trezentas legoas ao poente do archipelago de Cabo Verde, e por isso ficou pertencendo a Portugal a parte comprehendida na futura descoberta do Brazil». In A. C. Teixeira de Aragão, Breve Notícia sobre o Descobrimento da América, Mckew Parr Collection, Maggellan, BrandeisUniversity (Lo que nos importa), Tipografia da Academia Real das Ciências, Lisboa, 1892.

continua
Cortesia de Academia das Ciências/JDACT