Cortesia
de wikipedia e jdact
Espaço.
Poder. Memória
Construir
e Organizar
«(…)
Para melhor se compreender a história da diocese de Lamego, inserida primeiro
no reino suevo, depois no visigodo, em seguida no Condado de Coimbra e,
finalmente, no Condado Portucalense e no emergente reino português, forçoso é
recuar até ao mais antigo passado de Lamego como sede de bispado. Foi ainda
durante o Império Romano que a religião cristã foi introduzida na Península
Ibérica e se começaram a organizar, neste extremo ocidental da Europa, as
primeiras comunidades de seguidores de Cristo (sobre os mais recuados tempos do
cristianismo na província da Lusitânia, onde se integrava Lamego) assim também
sucedeu na região de Lamego, onde sabemos que a romanização se fizera
fortemente sentir. O desenvolvimento do cristianismo na zona levou a que Lamego
se tornasse sede episcopal no século VI, durante o domínio suevo da parte norte
do território futuramente português, e no tempo da acção missionadora levada a
cabo por S. Martinho de Dume, a partir do mosteiro, próximo de Braga, ao qual o
seu nome ficou para sempre associado. É nas actas do II Concílio realizado
nesta cidade, em 572, que surge a mais antiga subscrição de um bispo de Lamego,
Sardinário. Existem referências a anteriores prelados, que relevam
provavelmente apenas do domínio da lenda ou, pelo menos, não têm qualquer
comprovação documental; por isso, devemos considerar Sardinário como o
primeiro bispo de Lamego de que há certeza, de acordo com as investigações
mais seguras e recentes acerca desta difícil temática5.
Difícil,
essencialmente, porque as fontes ao dispor dos investigadores são poucas e
lacunares. Até ao final do século VII, provêm quase sempre, e unicamente, das
subscrições episcopais conservadas nas actas dos concílios realizados pela
Igreja hispânica; por esta via conhecemos oito prelados, de 572 a 693 (vid.
Quadro I), cujos nomes, quase todos germânicos, formam uma sequência a que
não podemos ter a certeza de não faltar alguém. É possível que Fiôncio tenha
tido um ou mais sucessores, antes da queda da cidade em poder dos muçulmanos,
poucos anos volvidos sobre a travessia do estreito de Gibraltar pelas tropas de
Tarique, em 711. O seu rápido avanço em direcção ao norte peninsular provocou a
desorganização das estruturas do reino visigodo, não apenas civis, mas também
eclesiásticas; não admira, pois, que deixe de haver menções a prelados, tanto
em Lamego como em grande parte dos bispados hispânicos, sobretudo à medida que
iam ficando sob domínio muçulmano (sobre a forma como, rapidamente, as tropas
árabes dominaram o território peninsular). À semelhança de outras dioceses,
Lamego talvez tenha mantido durante a ocupação sarracena bispos não residentes,
que se acolhiam mais a norte, em terras cristãs, como indiciam as notícias das
décadas iniciais do século X (que cita um diploma de Ordonho II de 915,
referindo a presença dos bispos de Lamego e Tui no norte da Galiza). Mas os
seus nomes permanecem-nos desconhecidos, só voltando a haver referências a
bispos na diocese depois de a cidade ter regressado a mãos cristãs, no último
quartel do século IX, graças às acções militares do rei Afonso III (866-910),
que permitiram devolver aos cristãos vastas zonas, desde o Minho ao Mondego (relativamente
à conjuntura vivida no tempo de Afonso III e às suas conquistas). O domínio cristão
da cidade permitiu que as suas estruturas eclesiásticas se reactivassem e a
igreja conhecesse um verdadeiro florescimento, bem patente nos fragmentos de
importantes códices dessa época que ainda hoje se conservam (arciprestado de Vila Nova de Foz Côa,
diocese de Lamego: breve ensaio sobre o território e as comunidades eclesiais)».
In
Anísio Sousa
Saraiva, Coordenação, Espaço, Poder, Memória, Faculdade de Teologia, Centro
de Estudos de História Religiosa, Universidade Católica Portuguesa, Fundação
para a Ciência e a Tecnologia, 2013, ISBN 978-972-836-157-0.
Cortesia
de CEHR/UCP/FCT/JDACT