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de wikipedia e jdact
Vaticano.
19 de Abril de 2005
«(…)
O seguinte era parecido, com um brasão diferente e texto mais curto.
Aos 8 de Novembro de 1985, na Cidade do Vaticano.
Determino
a prorrogação do acordo, celebrado aos 8 de Novembro de 1960, por período
idêntico, findo o qual se definirão novos ajustamentos com os herdeiros.
Cumpra-se
e assine-se.
Johanes
Paulus P. P
Ben
Isaac
(E mais cinco assinaturas ilegíveis)
Ben Isaac leu e releu os textos.
Relembrou as negociações. Os cardeais os prelados, os núncios apostólicos, os
simples curas que durante dois anos iam e vinham com recomendações, oblatas, cominações,
vitupérios..., os Cinco Cavalheiros. Nunca conheceu João XXIII nem João Paulo
II, apesar de todos assinarem o documento. Talvez esse tivesse sido o erro.
Demasiados enviados especiais, quando teria sido mais simples sentarem-se à
mesma mesa e conversado. Um núncio chegou a oferecer-lhe dez milhões de dólares
pelos documentos, antes do primeiro acordo. Duvidava que João XXIII tivesse oferecido
tal quantia. O certo é que depois do acordo assinado nunca mais foi incomodado.
Tantos erros cometidos ao longo do tempo. Isto nada tinha a ver com religião.
Pensou em Magda, o que lhe embargou os olhos de lágrimas, depois Myriam
invadiu-lhe a mente. O passado, sempre ele, levara-o a encontrar coisas inimagináveis.
Objectos que dinheiro algum podia comprar. Se o mundo soubesse. Talvez fosse
necessário que soubesse em breve. Por Magda.
Deitando um último olhar aos
pergaminhos, Ben Isaac suspirou. Olhou para o relógio. Estava na hora.
Voltou-lhes as costas e saiu do cofre em direcção às escadas. Estava velho de
mais para a guerra, mas não lhe voltaria as costas. A vida era uma guerra... nada
mais.
O
tempo terminou. O acordo acabou.
O velho arqueólogo tossiu e
esperneou. A pancada não se fez esperar, firme e seca, sem remorso. Da próxima
ponho-o a dormir, ciciou a voz ao seu ouvido, fria, aterradora. O velho arqueólogo
sabia que ele dizia verdade. Apanhou-o da forma mais absurda que se possa
imaginar. Um telefonema a meio da noite, inoportuno, mas não estranho. Acordou
estremunhado e mal-humorado, mas o teor da conversa logo o despertou. Um
pergaminho a precisar de tradução. Datava do século I, mas desconhecia-se a língua.
A pessoa do outro lado da linha desfez-se em desculpas devido ao adiantado da
hora, mas pagaria o que fosse preciso para que tão conceituado arqueólogo
pudesse dar uma vista de olhos ao achado e dizer de sua justiça. Belas palavras
que o seu ego raramente ouvia. O resto foi fácil. Um bilhete esperava-o no
aeroporto na manhã seguinte que lhe dava acesso ao destino. Idiota, pensou. A mãe sempre lhe
disse que ninguém dava nada a ninguém.
Quando
chegou apanhou um táxi para a morada que o desconhecido lhe dera, enfrentou o
caótico tráfego da hora de almoço que quase levou tanto tempo como o voo e, por
fim, chegou à morada dada. Parecia um armazém-frigorífico abandonado. Um local
estranho para um encontro destes. O cordial cumprimento, entre desconhecidos,
que esperava foi um bofetão forte no rosto e um empurrão que o fez cair com a
cara no chão. O sujeito, um homem magro que trajava um fato de corte elegante,
pousou o joelho sobre as suas costas e colou-lhe o rosto ao chão com uma mão
pesada. Em seguida, revelando uma forma física invejável, baixou a cabeça sobre
o ouvido do arqueólogo. As regras são simples. Eu pergunto e o senhor responde.
Qualquer alteração a este princípio terá consequências, entendido?» In
Luís Miguel Rocha, A Mentira Sagrada, Porto Editora, 2011, ISBN
978-972-004-325-2.
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