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de wikipedia e jdact
«Vinte
mil franceses alinhavam-se nas colinas, os estandartes abundantes ao vento que
soprava do mar. A auriflama, o sagrado galhardete de guerra da França, estava lá.
Era uma bandeira comprida, com três caudas pontudas, uma ondulação
vermelho-sangue de preciosa seda, e se a bandeira tinha uma cor viva era porque
era nova. A antiga auriflama estava na Inglaterra, um troféu apanhado na larga
montanha verde entre Wadicourt e Crécy no verão anterior. Mas a nova bandeira
era tão sagrada quanto a antiga, e em torno dela tremulavam os estandartes dos
grandes senhores da França: os estandartes de Bourbon, de Montmorency e do
conde de Armagnac. Bandeiras menos importantes eram vistas entre as nobres, mas
todas proclamavam que os maiores guerreiros do reino de Filipe tinham ido combater
os ingleses. No entanto, entre eles e o inimigo estavam o rio Ham e a ponte em
Nieulay, que era defendida por uma torre de pedra, em volta da qual os ingleses
haviam cavado trincheiras, as quais tinham enchido de arqueiros e soldados. Do outro
lado daquela força estava o rio, depois os pântanos, e no terreno mais elevado,
perto do alto muro de Calais e seu fosso duplo, havia uma cidade improvisada,
de casas e tendas, onde vivia o exército inglês. E um exército como nunca se
vira na França. O acampamento dos sitiantes era maior do que a própria Calais.
Até onde a vista alcançava havia ruas margeadas por lonas, com casas de madeira
e cercados para cavalos, e entre eles havia soldados e arqueiros. A auriflama bem
que poderia ter ficado enrolada. Nós podemos tomar a torre, majestade. Sir
Geoffrey Charny, soldado valente como qualquer outro no exército de Filipe, fez
um gesto para baixo da montanha, no ponto em que a guarnição inglesa de Nieulay
estava isolada do lado francês do rio, com que finalidade?, perguntou Filipe.
Ele era um homem fraco, hesitante
em combate, mas a pergunta era pertinente. Se a torre caísse e, com isso, a
ponte de Nieulay ficasse em seu poder, de que serviria ela? A ponte
simplesmente levava a um exército inglês ainda maior, que já se dispunha em
ordem de batalha na terra firme à beira do acampamento. Os cidadãos de Calais,
com fome e sem esperança, viram os estandartes franceses na crista sul e
responderam pendurando as bandeiras deles nas suas defesas. Eles exibiam
imagens da Virgem, retratos de S. Denis da França e, no alto da cidadela, a
bandeira real azul e amarelo, para dizer a Filipe que os seus súbditos ainda
viviam, ainda lutavam. Mas a brava exibição não conseguia esconder o facto de
que tinham ficado sitiados por onze meses. Eles precisavam de ajuda. Tome a
torre, majestade, insistiu Sir Geoffrey, e depois ataque o outro lado da ponte!
Meu bom Cristo, se os malditos nos virem conseguir uma única vitória, poderão
perder o ânimo! Um grunhido de concordância veio dos senhores reunidos.
O rei estava menos optimista. Era
verdade que a guarnição de Calais ainda resistia, e que os ingleses
praticamente não tinham danificado os muros da cidade, ainda menos encontrado
um meio de atravessar os fossos gémeos. Mas também os franceses não haviam conseguido
levar suprimento algum para a cidade sitiada. O povo de lá não precisava de estímulo,
precisava de comida. Um jacto de fumaça surgiu do outro lado do acampamento e,
poucos segundos depois, o som de um canhão ecoou pelos pântanos. O projéctil
devia ter atingido o muro, mas Filipe estava muito longe para ver o efeito. Uma
vitória aqui irá estimular a guarnição, insistiu lorde de Montmorency, e
implantar o desespero nos corações ingleses. Mas por que iriam os ingleses
perder o ânimo se a torre de Nieulay caísse? Filipe achava que aquilo iria
apenas enchê-los de vontade de defender a estrada no lado oposto da ponte, mas também
entendia que ele não poderia manter seus cães contidos quando um inimigo odiado
estava à vista, e por isso deu a permissão. Tomem a torre, disse, e que Deus
lhes conceda a vitória. O rei permaneceu onde estava enquanto os senhores
reuniam homens e se armavam. O vento que vinha do mar trazia um cheiro de sal,
mas também um odor de decomposição talvez proveniente de algas que apodreciam
nos longos alagadiços que recebiam a maré». In Bernard Cornwell, O Herege, 2003,
Editora Record, 2011, ISBN 978-850-106-867-5.
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