sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

As Palavras do Corpo Maria Teresa Horta. «Dou voz liberta aos sentidos, tiro vendas. Ponho o grito, escrevo o corpo, mostro o gosto, dou a ver o infinito»


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Ambiguidade
«Não me acordes
se de acordo já estou morta

Não me dispas
se de pedra já me visto

Não me beijes
se de bruços já me mordes

Não insistas
se de sono já desisto

Não detenhas o gesto
no sentido
se a mão afaga o corpo já despido»

O Nó
«Que manso e cego
o nó da tua voz!

Se desatá-lo pudesse
dos meus lábios…

Se apunhalá-lo pudesse
ou não custasse
adormecer e acordar
com ele em face»

A Voz
«Da tua voz
o corpo
o tempo já vencido

os dedos
que me vogam
nos cabelos

e os lábios a roçar-me a boca
nesta mansa tontura
de nunca tê-los

Meu amor
nos quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos…

Mas porque assim te invento
e já te troco as horas
vou passando dos teus braços que não sei

para o vácuo em que me deixas
se demoras
nesta mansa certeza que não vens»

Poemas de Maria Teresa Horta, in “As Palavras do Corpo

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