sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Mil Noites de Paixão. Madeline Hunter. «Sou Melissa, uma cortesã, disse ela, naturalmente. Asseguro-te que não sou uma prostituta. É por isso que estou aqui»

Cortesia de wikipedia e jdact

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«(…) Ele olhou para cima, surpreso, quando passou rapidamente ao lado dele, e correu o tecido que fazia de porta. Ela rezou para que o homem que procurava estivesse dentro, e que esses outros não a seguissem. Porque então, por tudo o que ela sabia, ele poderia simplesmente dar com os ombros e deixar que os soldados a levassem. O tecido branco da tenda criava uma luz difusa e suave, e levou um momento para adaptar seus olhos. Ela procurou pela cama, a mesa e o baú que havia na tenda. Uma armadura polida brilhava no chão a alguns passos dela. Não se ouvia um único som. E então uma sombra se moveu. A de um homem levantando do tamborete onde ele tinha estado sentado com suas costas apoiadas contra o poste central da tenda. O que está fazendo aqui?, ele bruscamente perguntou. Ela só o olhou fixamente. Ela observou esse homem tão alto como uma torre. Ele era mais alto que a maioria dos homens. Mas ela era mais baixa que a maioria das mulheres, e a diferença marcante em seus tamanhos de repente a fez estar intensamente consciente de sua vulnerabilidade. O que ela não tinha podido ver, olhando a partir da torre, era como ele era bonito. As grossas sobrancelhas suavizavam suas feições e lhe davam um marco escuro, contrastando com seus olhos que pareciam com um céu claro, cheio de luz. Ossos agudos e definidos no seu rosto e boca. O cabelo escuro caindo até seus ombros, sustentado por um tecido atado ao redor de sua fronte. Ele só vestia um par de calças camponesas soltas, cortado em cima dos joelhos. Essas pernas estavam bem formadas, todos os músculos alargados e avultados. A mesma magreza atlética formava seus ombros largos e seu tórax esculpido. Com seu primitivo modo de vestir, lhe fez recordar dos antigos guerreiros sobre os quais ela tinha lido nos livros de Robert. Ele era o inimigo, mas igualmente a respiração dela ficou entrecortada. Magnífico. Assustador. Era uma desgraça que ela tivesse que matá-lo. Ele caminhou em direcção a ela. Deu a seu vestido, a seu cabelo e a suas bochechas avermelhadas uma fria avaliação enquanto tirava a franja de sua fronte e passou uma mão por seu cabelo. Ela esperava que ele não pudera ver seu rubor, porque a mulher que interpretava esse dia nunca se sentiria desconcertada pelo exame de um homem, sem importar quão atractivo ele pudesse ser. Sua expressão se iluminou, e ele levantou uma sobrancelha especulativamente. Ele deduziu a única coisa que ele precisava saber. Sorriu. Meu Deus, que sorriso! Lábios rectos, curvados apenas nos extremos. Absolutamente encantadores, subtilmente sugestivos, vagamente irónicos. Formavam umas atractivas e pequenas rugas a um e outro lado de sua boca. Transformando o bonito rosto, antes distante e indecifrável, num sensual e amigável semblante. Mas ela viu algo mais quando ele a olhou. Ela viu na posição confiante de seu corpo, no reflexo em seus olhos e até no sorriso propriamente dito: vaidade; arrogância; orgulho; uma inabalável confiança em si mesmo. Ela notou que ele era consciente do efeito que seu rosto, seu corpo, causavam. Em todas as mulheres.  Ela tinha conhecido esse tipo de homens antes. A casa de seu pai tinha estado cheia deles. Talvez, afinal, não lhe importasse tanto matá-lo. O que está fazendo aqui?, ele repetiu. Ela recuperou sua compostura. Fui chamada pela cidade de Bewton. A cidade enviou alguém a Glasgow para me contratar. A gente da cidade queria estar segura que seu presente ia agradar te, sir Morvan. Presente? Está dizendo que a cidade contratou uma prostituta... Sou Melissa, uma cortesã, disse ela, naturalmente. Asseguro-te que não sou uma prostituta. É por isso que estou aqui. A cidade não confiava em suas mulheres para esta tarefa. E qual é o propósito deste presente? Eles esperam que se está agradado não atacará à cidade com seu exército. E você veio para me persuadir disso?, ele caminhou ao redor dela, examinando-a como um animal posto à venda. Ela esperava que ele bocejasse e lhe anunciasse que ela não serviria para esse propósito. Um cavalheiro que dê essa ordem a seus homens teria que estar muito agradado, por certo. E qual é o propósito de conquistar se não haver nenhum butim (segundo o Houaiss, é o conjunto de bens materiais e de escravos, ou prisioneiros, que se toma ao inimigo no curso de um ataque, de uma batalha, de uma guerra; pode ser o produto de roubo ou de pilhagem; no uso formal é o produto de caça ou pesca, e, informal, é o proveito, lucro; como espólio de guerra, era divido de acordo com a eficiência de cada um nos campos de batalha), nenhum lucro? A cidade pagará seu tributo. Haverá perdas sem dúvida. Mas é a selvageria, o saque e as violações, os estupros o que eles desejam evitar. Ele estendeu sua mão e acariciou seu cabelo, levantando uma mecha, deixando que seu olhar e seus dedos percorressem sua considerável extensão. Qual é mesmo o seu nome? Melissa. Não pode ter ouvido falar de mim, mas eu fui treinada pela famosa Dionysia». In Madeline Hunter, Mil Noites de Paixão, Edições ASA, 2012, ISBN-978-989-231-672-7.

Cortesia EASA/JDACT