domingo, 25 de dezembro de 2016

Novas Cartas Portuguesas. Maria Barreno, Maria Horta, Maria Costa, (As Três Marias). «Ouve Isabel as pedras são antigas desmerecido temos o seu trato de basalto macio ou irisado quartzo»

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Novas Cartas Portuguesas. Ou de como Maina Mendes ôs ambas as mãos sobre o corpo e deu um pontapé no cu dos outros legítimos superiores
«(…)
Considerai, irmãs minhas, cá hoje e ensoalhada a febra por este  brando sol se repartindo e bem rendido, turista o dar e o brotar para esta novidade literária que há-de vender-se, eu vos asseguro, ó seis patinhas sonsas de nós três caminheiras, considerai cá hoje e abrivos, nós para nós e eles. Considerai a cláusula proposta, a desclausura, a exposição de meninas na roda, paridas a esconsas da matriz de três. Moças só meio meninas bem largadas da casa de seus pais e arrematados já seus dotes em leilão de país. Nem vai ser isto, pois não é? Que vai ser de nós e Mariana depois desta partida, choro de ausência, de alguma falta, falha de Mariana ou quem, ou dela querer sabê-la? Só que Beja ou Lisboa, de cal ou de calçada, há sempre uma clausura pronta a quem levanta a grimpa contra os usos: freira não copula mulher parida e laureada escreve mas não pula (e muito menos se o fizer a três) com a Literatura, LITERATURA, não se faz rodinhas, porém, ledores, haveis comprado Mariana e nós, tendo ela montado o cavaleiro e bem no usado para desmontar suas / doutras razões de conventuar.
E nós, e nós, de quem, a quem o rumo, os dizeres que nem assina assinados vão, o trio de mãos que mais de três não seja e anónimo o coro? Oh quanta problemática prevejo, manas, existiremos três numa só causa e nem bem lhe sabemos disto a causa de nada e por isso as mãos nos damos e lhes damos, nos damos o redondo da mão o som agudo, a escrita, roda de saias-folhas, viração de quê? Garantia porém a quem folheia, o tema é de passagem, de passionar, passar paixão e o tom é compaixão, é compartido com paixão. 3/3/71

Teresa
De rosas tu teresa e a voz de vidro
prestes e libelinha do quebrar-se e nunca
de leve astuciando os ditos gastos esgotas
e travo tenro trevo fica; um silvo (tu de silves),
plácido um sulco gravemente meneado
sobre alguma cal, um equilíbrio manso
o fácil contornado pela ponta da boca
dado de anca leda barca e pétala
polpa de embalo ao eixo aceso, não corrupto
estame em luz
único de um fio e de um metal de ti teresa. 6/3/71

Isabel
Ouve Isabel as pedras são antigas
desmerecido temos o seu trato
de basalto macio ou irisado quartzo.
Revéns do que as sustenta até areias peso.
Não do granito digo ou não apenas
de todas trazes signo e majestade
mesmo de areias.

Ouve de areias digo e risco
reduto mineral cristal de rocha branca saibas
que o som tem o metal e ar também
e entre gotas de ar se afia a música palavra.

Tu tens intacta a ordem na figura da carne
e recuado gesto
ordem da pedra imposta e recortada
transparecente ou de vedada cor
safira seixo colina rosa aurora
só a fala areada te desgasta.

Ouves
como as águas maninhas te corroeram porte
e nome de isabel contorna ilha coral alto
e a detém.

Antes azálea foras
flor de pedra o nome e arredio.
Não por inerte mole entendo que chegaste
ou te devolvo
perigas onde o suporte é estreito
e sulco fere o acto separado
contigo o tempo exacto gasta te tem por vã o olho astuto sílex
talhando no polido face e aresta rosácea
despojo posto em guarda pacto sombra
desmerecida a rocha iluminada.

Ouve Isabel por baças e antigas
como de pedra luz são escassas as que estão
e dão sinal
consente o que moldado está por belo
a carnadura suave e alevantada. 6/3/71»
In Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho Costa, Novas Cartas Portuguesas, 1972, edição anotada, Publicações dom Quixote, 1998, 2010, ISBN 978-972-204-011-2.

Cortesia PdQuixote/JDACT