Henrique José Caldeira Queirós. Senador eleito pelo Distrito de
Portalegre, em 1925
Cortesia de antonioventura e jdact
«A historiografia portuguesa tem considerado o golpe militar de 28 de
Maio de 1926 como um movimento que
aglutinou diversas elites políticas divergentes. Estas elites tinham apenas um
objectivo comum, derrubar do poder o partido democrático. De facto, republicanos
conservadores, liberais, monárquicos, fascistas e até sectores da esquerda
republicana apoiaram o golpe militar. Este grupo heterogéneo tinha uma unidade
muito ténue, que desapareceu quando atingiu o poder. As elites políticas apoiantes
do 28 de Maio pertenciam a ‘famílias’ políticas muito divergentes quanto ao
modelo político a implementar. Após o 28 de Maio, os diferentes grupos que apoiaram
o golpe lutaram pela liderança do processo político.
Este enquadramento está relativamente bem estudado a nível central, e
central, aqui, significa Lisboa. No entanto, a nível local praticamente nada se
sabe.
Como Íoi acolhido o 28 de Maio? Quais as forças políticas que o
apoiaram? Quem subiu ao poder apos o golpe? Estas são algumas questões que
procuramos responder com este trabalho.
Confronto político em Portalegre no final da I República
Os grandes problemas políticos da I República persistiam ainda em 1925
e alguns deles tendiam para um agravamento:
- A permanência constante do P.R.P. no governo, tinha levado a um desgaste político das figuras emblemáticas do partido. As constantes acusações de corrupção e a não resolução dos problemas sociais levaram a um ataque cada vez mais cerrado da oposição. Em simultâneo, constantes dissidências fragilizavam o maior partido da República;
- Para os sectores mais conservadores a República linha cedido em demasia às reivindicações operárias, e por isso sentiam-se traídos pelo partido democrático. O operariado, pelo contrário, julgava que os avanços em termos sociais tinham sido diminutos;
- Lentamente tanto à direita do P.R.P. como à esquerda deste, um vasto grupo heterogéneo uniu-se num objectivo comum, o derrube do partido democrático do poder.
Em Portalegre detectamos alguns sinais que vão ao encontro deste enquadramento
geral. O partido democrático no final da República viu a sua liderança
histórica no concelho e no distrito ser ameaçada por coligações políticas que o
queriam afastar do poder. Nas eleições legislativas de 1925 os monárquicos
conseguem eleger dois senadores no distrito de Portalegre, João Azevedo
Coutinho (3885 votos) e Álvaro César de Mendonça (3289 votos), enquanto os
democráticos apenas conseguem eleger o independente republicano, Henrique Caldeira
Queirós (3502 votos). O prestigiado democrático Jorge Velês Caroço ficou à
beira da eleição (3228 votos). Os outros candidatos obtiveram resultados pouco significativos.
Na eleição para a Câmara de Deputados no círculo de Portalegre Severino
Santana Marques da União dos Interesses Económicos foi o mais votado (1957
votos). Este candidato concorreu na mesma lista (considerada por eles conservadora),
com o candidato monárquico Mário Miranda Monteiro (1892 votos) que por dois
votos não foi eleito. Os candidatos democráticos João José Camoêsas e o
candidato Baltazar d'Almeida Teixeira obtiveram 1894 votos, sendo os dois
eleitos. Os outros candidatos obtêm resultados muito distantes destas duas
listas: António Correia, republicano independente e regionalista (892 votos);
Bartolomeu Denis Soares, nacionalista (493 votos); Justiniano Augusto Esteves,
radical (118 votos); António Casimiro Costa, republicano independente, (35
votos).
Hildeberto Botelho Medeiros, tenente e membro da 1a Comissão Executiva,
após o ‘28 de Maio’
Cortesia de antonioventura e jdact
Como podemos verificar, os monárquicos e a aliança destes com a União
dos Interesses Económicos (na eleição para a Câmara dos deputados) são os
grandes rivais dos democráticos no distrito de Portalegre e no círculo de Portalegre.
Os democráticos têm plena consciência desta realidade. Mesmo antes das
eleições, no seu órgão, “A Plebe”, referem que em ‘Portalegre há duas listas em
luta. Duas listas apenas: a do P.R.P e a monárquica. Porque as outras ou são
monárquicos disfarçados ou são de partidos que não ‘teem’ força apreciável no
círculo’.
O principal visado pelas críticas de “A Plebe” era
neste período o director do jornal “O Distrito de Portalegre” Severino Santana
Marques, que pelo seu passado monárquico era tido como um elemento de pouca
isenção política. A União dos Interesses Económicos era considerada uma ‘organização
política disfarçada’. Já que segundo “A Plebe”, ao verificar que podia perder
as eleições para o P.R.P, o "orgão monarquico (...) [O Distrito de
Portalegre] sem o menor Rebuço sem o mais leve vislumbre de vergonha, sem respeito
algum pelas afirmações anteriormente feitas, recomendaram com o maior descaramento
a votação em chapa nos candidatos monarquicos e da união dos interesses’». In Manuel
Baiôa, Elites Políticas Locais face ao '28 de Maio', O Caso de Portalegre, Ibn Maruán, Revista
Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de Jorge Oliveira, nº 7, 1997.
Cortesia da CM de Marvão/JDACT