domingo, 8 de julho de 2012

FCG. Orquestra Geração. Viva la Vida. «O projetco das Orquestras Geração é centrado na acção e desenvolvimento social através da música, experimentando assim um método inovador em Portugal de combate ao insucesso escolar que oferece aos mais jovens formação musical gratuita»



jdact e fcg

Orquestra Geração. Viva la Vida
«No pf dia 11 de Julho, as Orquestras Geração reúnem-se no Anfiteatro ao ar livre para mais um concerto de Verão, que vai trazer à Fundação cerca de 400 jovens músicos amadores. Fomos espreitar um dos ensaios de uma parte da Orquestra de Sopros, que é uma das novidades neste concerto em que serão interpretadas várias músicas, entre elas o tema “Viva la Vida” da banda pop-rock britânica Coldplay.
É fim de tarde e, no pátio da Escola Miguel Torga, na Amadora, onde o projecto das Orquestras Geração começou há cinco anos, avistam-se apenas dois ou três jovens a conversar e a jogar displicentemente à bola. Dentro do edifício, os corredores estão praticamente vazios e, não fosse o som de um instrumento de sopro, que ouvimos ao longe, pensaríamos mesmo que já todos tinham ido para casa. Mas não. Ao virar da esquina, sentadas num banco, duas raparigas indicam-nos onde fica o bar dos alunos. É aí que vai começar dentro de poucos minutos o último ensaio do núcleo de sopros desta escola, com 14 elementos. Reunidos com os núcleos de sopros de outras dez escolas nos concelhos de Amadora, Loures, Sesimbra, Sintra, Oeiras, Lisboa e Vila Franca de Xira, formam um dos mais recentes agrupamentos da Orquestra Geração: a Orquestra de Sopros, que conta, no total, com 200 crianças e jovens do ensino básico e secundário. 
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O 'El Sistema' em Portugal
O projetco das Orquestras Geração é centrado na acção e desenvolvimento social através da música, experimentando assim um método inovador em Portugal de combate ao insucesso escolar que oferece aos mais jovens formação musical gratuita. Inspira-se no Sistema Nacional de Orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela, conhecido por “El Sistema”, criado em 1975, destinado à população infanto-juvenil das zonas urbanas desfavorecidas de Caracas. Há dois anos, um grupo de professores que trabalha no El Sistema veio da Venezuela para observar os resultados do projecto das Orquestras Geração em Portugal. Ficaram surpreendidos. João Azevedo, professor do Conservatório que dirige o ensaio de sopros na Escola Miguel Torga, explica-nos porquê:
  • “Na Venezuela criam uma orquestra de cordas, que pode estar a trabalhar entre quatro e seis anos, e só depois adicionam os sopros. Mas nós temos feito uma abordagem diferente e está a funcionar.”
Na Escola da Damaia, por exemplo, neste ano lectivo o projecto foi iniciado com cordas e sopros, em simultâneo. Nas outras escolas, no primeiro ano eram sempre as cordas e só no segundo ano se juntavam os sopros. “Há um trabalho que as cordas têm de realizar, que é mais difícil”, explica o professor. “Todos os instrumentos têm o seu grau de dificuldade, mas os sopros adaptam-se mais facilmente.” Uma abordagem diferente, mas que tem produzido resultados muito positivos.

Ensaio de orquestra
Regressemos ao bar dos alunos da Escola Miguel Torga, onde os jovens que fazem parte da recente Orquestra de Sopros já estão instalados. O professor explica-nos que estes meninos já tocam juntos desde 2007 para a Orquestra Principal, que reúne sopros, cordas e percussão. Mas a Orquestra de Sopros foi criada apenas no início do ano lectivo 2011-2012. Aqui encontramos flauta, oboé, clarinete, fagote e, nos metais, trompete, trompa, trombone e tuba, a que se junta ainda a percussão. Os violinos, violas, violoncelos e contrabaixos estão ausentes. Quando perguntamos aos alunos o que significou esta passagem, a resposta é unânime e focada num único fator: o repertório. “Enquanto a Orquestra Principal toca Aleluia de Händel ou toca Strauss, um repertório mais clássico, portanto, na Orquestra de Sopros há mais flexibilidade”, complementa o professor. 


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O grupo só voltará a reunir-se em Julho, altura em que começam os chamados “estágios de verão”. Até lá, juntar­se-ão apenas para mais uma audição “familiar” (ocorrem regularmente, no final de cada período) onde mostram aos pais o que aprenderam a tocar ao longo do ano. Há um trabalho individual que é desenvolvido semanalmente durante 30 minutos e depois há as apresentações em conjunto, como a que acontecerá na Fundação Gulbenkian, uma vez mais. Entretanto, a segunda fila dispersa-se mais e o professor queixa-se – “os trompetes estão moles!” –, mas não desiste. E fala-nos do caso do Rodrigo, talvez o mais irrequieto do grupo, que começou por estudar oboé, mas ao fim de dois anos manifestava grande desmotivação. Fez então a transição para o trompete, que está a tocar há oito ou nove meses, e está satisfeito. Quando se passa de um instrumento de palheta para um instrumento vocal, há vários novos elementos a adquirir, mas o professor não tem dúvidas de que foi a opção certa. “É um caso raro, mas abriu-se esta excepção”, diz. E como qualquer exceção que se preze, só veio confirmar a regra: o projeto funciona e o Rodrigo continua a tocar». In Fundação C. Gukbenkian, Orquestra Geração, Viva la Vida, Newsletter, Julho – Agosto, 2012.

Cortesia da Fundação C. Gulbenkian/JDACT