quarta-feira, 18 de julho de 2012

José de Encarnação. Das Guerras Peninsulares e das Epígrafes Romanas. «O relato de Cornide do dia 8 de Agosto, com saída de Portalegre e chegada a Nisa. […] pudemos observar que os desenhos estavam ‘elaborados’, passados a limpo juntamente com o diário, no repouso de Lisboa ou de qualquer outra localidade portuguesa…»


Esboços das inscrições feitos por Cornide em 8AGO1800
jdact

«Pensara ir nessa mesma tarde para Castelo de Vide, que está uma légua e meia a SW de Marvaom [Marvão], mas faltou-me o tempo e contentei-me com observar a sua posição, que não me pareceu tão vantajosa como aquela em que eu me encontrava porque, apesar de o castelo dominar a praça, também ele se encontra dominado pela serra. Castelo de Vide tem um regimento com o seu nome e apenas um destacamento de 20 ou 30 homens. Parti de Marvaom [Marvão] para Puerto Alegre [Portalegre], atravessando a serra oriental por um caminho péssimo até uma légua antes da cidade; passei pela deliciosa ribeira de Niza [Nisa], povoada de vinhas e de árvores de fruto, e cheguei finalmente à povoação uma hora após o anoitecer. Aí fui obsequiado pelo governador, o tenente--coronel Mateo de Pina, cavaleiro do país, que me ofereceu várias curiosidades das ruínas de Arameña [Aramenha] de barro e de vidro, que lhe pedi me enviasse para Lisboa, pois a pouca comodidade da minha equipagem não me permitia levá-las comigo sem risco de as partir.

Até aqui o relato de Cornide do dia 8 de Agosto, com saída de Portalegre e chegada a Nisa. Quando já conhecíamos este documento, pudemos observar que os desenhos estavam "elaborados", quer dizer, passados a limpo juntamente com o diário, no repouso de Lisboa ou de qualquer outra localidade portuguesa em que Cornide tivesse descansado nas jornadas seguintes ao dia 8 de Agosto de 1800.
Não se tratava dos desenhos originais, posto que, se assim fosse, não apareceriam já inseridos num cuidadoso diário. Tinha que haver algum rascunho prévio... E havia! Isto é; “há”. Junto ao diário da passagem por S. Salvador de Aramenha nessa data, conservam-se, por sorte, os esboços que Cornide realizou naquela manhã de 8 de Agosto na Quinta do Deão de Portalegre.
Encontram-se esses esboços noutro documento, que contém muitos apontamentos próprios e alheios, onde figura um folio in 4º intitulado “Aramenha”, e os rascunhos, por esta ordem, de CIL II 16I, 164, 163, 162 e 159, ou seja, na mesma ordem em que seriam depois incorporados no diário.
Os diários de Cornide de 1800 e do general Alexander Dickson em 1810 trazem novos dados para a “História Literária” das inscrições de “Ammaia” descobertas na Quinta do Deão, S. Salvador de Aramenha, concelho de Marvão, distrito de Portalegre». In Juan Manuel Abascal, Universidad de Alicante, Rosario Cebrián, Parque Arqueológico de Segóbriga, José d’Encarnação, Universidade de Coimbra, Marvão e Ammaia ao tempo das Guerras Peninsulares, IBN MARUAN, 2009, Edições Colibri, Câmara Municipal de Marvão, ISBN 978-972-772-876-3.


continua
Cortesia de E. Colibri/CM de Marvão/JDACT