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«Seria, porém, um erro querer explicar tais episódios por
antinomias fundamentais como as que caracterizam naquela época, por exemplo, a
história alemã. Assim como a atitude antipapal de Pedro e Maurício de Braga se
explica pela luta dos bispos entre si, e só era possível pela existência, por
outro lado, de uma oposição contra o papa legítimo, assim a, infanta Teresa
nunca teria pensado num conflito directo com a Igreja. Perdeu, não há dúvida, a
ocasião de procurar a benevolência do papa e de apoiar o clero português. A
culpa, porém, se abstrairmos de motivos pessoais que desconhecemos, deve estar
nas desordens políticas, que também por enquanto não conhecemos suficientemente.
Em todo o caso, o reinado da rainha Urraca (1109-1126) é perburbado por profundas
lutas políticas que não podiam deixar de influir também na vida eclesiástica.
Temos prova disso nos actos do concílio de Sagunto recentemente encontrados,
concílio que o cardeal Boso convocou em Agosto de 1121, por ocasião da sua
segunda legação. O concílio decreta sobre toda a Espanha um interdito de dois meses
e meio.
Não se diz porquê, mas talvez se trate do procedimento da
rainha Urraca contra Diego, que tinha um fundamento puramente político. Não é
sem motivo que os historiadores espanhóis consideram esta época como a mais
escura de toda a história peninsular.
Diego não pôde, aliás, gozar plenamente das suas vitórias eclesiásticas.
Consegue, na verdade, em 1124, a dignidade de metropolita “in perpetuum” e o
título de arcebispo. Mas dos seus três bispos sufragâneos o mais importante, o
bispo de Coimbra, não se submeteu, apesar de vários mandados pontifícios. Gonçalo
de Coimbra continuou a apoiar Toledo, atitude que soube defender junto da Cúria.
Em 1 de Fevereiro vai receber das mãos de Honório um novo privilégio para o seu
bispado. Deve ter ficado ainda algum tempo em Roma, porque sabemos que no ano seguinte
estava lá, trabalhando com o novo arcebispo de Toledo, Raimundo, contra Santiago.
Foi uma confusão contínua de conflitos pessoais e de ordem material, e quando
em 1128 uma revolução dos dignitários põe fim ao reinado da infanta e faz subir
Afonso I ao trono, a Igreja portuguesa, encontrava-se em lamentável estado de
decomposição.
Inocêncio II e o juramento de vassalagem do rei Afonso
Henriques
A incerteza da situação política de Portugal, quando Afonso
Henriques (1128-1185) tomou posse do governo, ressalta claramente sobretudo do
título que o novo regente tomou: ao passo que D. Teresa, como filha de rei e
segundo o costume espanhol, era geralmente chamada rainha, Afonso Henriques
denominava-se a princípio apenas infante. Em que relação jurídica se encontrava
então Portugal com o reino vizinho castelhano-leonês, mal se pode definir.
Certo é apenas que existia qualquer forma de dependência, sem que no entanto Afonso
VII de Castela, ‘Imperador de Espanha’, se atrevesse a denominar-se expressamente
Senhor de Portugal. Também as repetidas e variáveis lutas entre os dois países
ficavam sempre sem resultado definitivo; terminavam constantemente apenas por
uma espécie de tréguas. Afonso Henriques tinha desde o princípio a firme resolução
de conquistar plena independência e combateu por ela cinquenta anos. Das fontes
históricas surge-nos sobretudo como impetuoso guerreiro; além disso, porém,
como precisamente as suas relações com o papado no-lo mostrarão, era político
enérgico e tenaz, que bem conhecia os meios de se afirmar e vencer». In Carl
Erdmann, O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa,
Universidade de Coimbra, Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra
Editora, 1935.
Cortesia de Separata do Boletim do Instituto Alemão/JDACT