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Introdução
«O testemunho mais representativo e extraordinário da romanização do
Norte Alentejano é, certamente, a cidade romana de Ammaia. Localizada junto de
importantes recursos hídricos, a antiga urbe cresceu e expandiu-se por uma área
aproximada de 22 hectares, cuja área central é actualmente formada pela Quinta
do Deão e Tapada de Aramenha, na freguesia de S. Salvador de Aramenha, concelho
de Marvão, distrito de Portalegre.
Ignorada pelas autoridades competentes, a cidade permaneceu adormecida
até 1994, ano em que ganhou vida um dos maiores projectos arqueológicos, a
nível nacional, graças à determinação de Carlos Melancia, Jorge de Qliveira,
não excluindo a colaboração de algumas instituições públicas, nomeadamente, a
Câmara Municipal de Marvão e a Universidade de Évora. A constituição da “Fundação
Cidade de Ammaia” foi o passo seguinte rumo à prossecução deste empreendimento turístico-arqueológico.
Concluído o levantamento topográfico e a imprescindível marcação das quadrículas,
a partir de Outubro de 1994, iniciaram-se os primeiros trabalhos arqueológicos.
Uma equipa qualificada, conjuntamente com alguns operários de arqueologia
locais e muitos jovens nacionais e estrangeiros puseram mãos à obra e desde
então têm escavado em diferentes áreas, criteriosamente seleccionadas.
A importância e a singularidade das construções postas a descoberto,
umas de carácter público, outras simplesmente domésticas, é complementada pela
recolha de vestígios móveis, resultantes da ocupação da cidade, na época
romana. A quantidade e diversidade das cerâmicas recolhidas transmite-nos a
importância funcional que teriam no quotidiano familiar. Porém, merece especial
destaque a presença de um elevado número de moedas ou numismas exumadas, originárias
das mais diversas oficinas de cunhagem do império romano.
Assim, com este contributo, pretendemos apresentar e divulgar o potencial
numismático da actual colecção da “Fundação Cidade de Ammaia”, de ora em diante
FCA, na sua vertente quantitativa, qualitativa e importância documental.
Tentaremos, ainda, analisar a sua forte concentração, ou quase inexistência, em
certas áreas específicas já escavadas. Assim, não tencionamos atribuir a este
estudo um carácter exclusivamente científico. Em primeiro lugar consideramos
pertinente elaborar uma breve síntese do trabalho efectuado, até ao momento,
resultante do esforço e da boa vontade de muitos anónimos, aqui recordados,
dignos amigos da “Ammaia”.
Áreas de intervenção
Privilegiando os sectores A, B e D, foram seleccionadas cinco áreas de intervenção:
- a Porta Sul,
- o Peristilo,
- o Forum,
- o Balneário do Forum,
- o Edificio da Quinta do Deão.
A existência de vestígios à superfície, bem como questões de ordem
técnica determinaram a preferência daquelas áreas. A intervenção na área, a que
mais tarde denominámos Porta Sul, permitiu pôr a descoberto uma das portas da
cidade, provavelmente, a mais importante, de onde seguiria uma via em direcção
à capital da província, “Emerita Augusta (Mérida)”. Esta entrada terá sido, num
dado momento, monumentalizada com a construção de duas torres circulares, um
arco, conhecido por Arco da Aramenha, e uma imponente praça pública. As torres
ladeavam uma das portas da cidade e eram, ao mesmo tempo, o ponto de partida da
muralha, limite do perímetro urbano. Do arco que fora construído entre as duas
torres, apenas se conservaram vestígios do arranque do mesmo e a soleira da
porta. Daqui partia um dos eixos principais da cidade, o “cordus maximus”, que
dividia em duas partes, simétricas, uma praça pública, pavimentada com lajes,
de granito quadrangulares. Para nosso gáudio, o lado direito da praça, para quem
entra na cidade, permaneceu praticamente intacto, do lado oposto apenas restaram
algumas lajes “in situ”». In Sofia Borges, Joaquim Carvalho, Sérgio Pereira, Numismática
Ammaiense, Notas preliminares, Ibn Maruán, Revista Cultural, nº 9/10, Marvão,
1999-2000, Edições Colibri, CM de Marvão.
Cortesia de E. Colibri/JDACT