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Análise
quantitativa
Numa
primeira análise pode dizer-se que a internacionalização das Cartas Portuguesas
ajudou a consolidá-las e a criar-lhes uma imagem literária de singularidade
reconhecida por leitores de todo o mundo. A primeira obra impressa das cinco
Cartas é traduzida para a língua francesa e editada no ano de 1669, o mesmo
acontecendo a todas as edições, reedições e contrafacções, dos séculos XVII e
XVIII, as quais virão gradualmente misturando as cinco cartas com as sete de
uma dama secular, mais as respostas dos amantes. O idioma francês domina este
período das Luzes como se pode observar pela análise dos resultados estatísticos,
embora nem todas as edições sejam de origem francesa, encontram-se assim
distribuídas:
- sete edições no século XVII, em Paris 1, Lyon 2, Amesterdão 2 e Haia 2;
- quatro edições no século XVIII, em Haia 3 e Paris 1.
No
século XIX saem do prelo 23 edições em vários idiomas:
- francês 4,
- castelhano 1,
- inglês 3,
- dinamarquês 1,
- holandês 1,
- português 11,
- bilingues luso-gálica 1 e franco-britanica 1.
É
o século da nota Boissonade (1810), do desvendar do nome de Mariana
Alcoforado, a provocar uma reviravolta no centro das atenções
literárias europeias; e também uma benesse para Portugal, tão necessitado de
valores que revitalizem a nação cada vez mais depauperada, e para as
investigações de Luciano Cordeiro (1888; 1891). As edições em língua
portuguesa, mais a bilingue, representam já 50% do total deste século, sobem a
primeiro plano e vão influenciar, através da actuação de um diplomata e investigador
inglês, Edgar Prestage, que traduz para a sua língua e torna conhecida,
em Londres e Portland-Maine, parte do estudo de Soror Marianna de Cordeiro,
ao mesmo tempo que motiva as edições de Copenhaga e de Amesterdão.
Do
século XX aos nossos dias o aumento das publicações é significativo (93% do
total da colecção). O conjunto dos séculos XVII, XVIII e XIX, com 34 exemplarcs
(7% da colecção), é ainda maioritariamente francês (44%), logo seguido do
português (32%), contudo a partir do século XX, aumenta consideravelmente o
número de traduções, além das já mencionadas, para alemão, italiano, norueguês,
grego, galego, catalão, japonês, checo, polaco e chinês. A posição da língua
portuguesa cresce para 354 exemplares (73% do total da colecção), a francesa
para 56 (11,5%), seguidas das inglesa (3,3%) e castelhana (3%) com
respectivamente 16 e 15 exemplares cada uma e, para as línguas italiana (1,6%)
e alemã (1,5%) com respectivamente 8 e 7 exemplares cada uma. Na língua japonesa
editam-se 3 exemplares, na checa 2, reduzindo-se as restantes a 1 exemplar
cada; salientam-se as 12 edições bilingues luso-gálicas (2,5%), sinal da
partilha e troca de ideias, aliadas a uma certa competição, entre editoras e
autores de ambos os países. Porém, a maioria dessas edições bilingues e de
origem portuguesa, prova de que, aos investigadores franceses, a nossa crítica,
mesmo que significativa, não é para levar a sério. Se fosse traduzida para a
língua francesa uma obra como a de António Belard da Fonseca, seria
suficiente para clarificar melhor a autenticidade feminina e portuguesa das Cartas.
Além
do exponencial aumento das edições em língua portuguesa interessa conhecer,
dadas as mudanças políticas operadas no país nos últimos quase duzentos anos, o
comportamento de algumas das variáveis mais importantes. Por exemplo, enquanto
para o Período Liberal se contabilizam 13 exemplares, para a I
República alcançam-se 48, para o Estado Novo os 85, e a partir
de Abril
de 1974 atingem-se os 188, mais 20 sem data, perfazem 354 exemplares.
Nem todas as publicações são livros, também há periódicos, assim 352 são livros
e 132 são periódicos (a maioria publicados depois de Abril de 1974), mais 1 álbum de fotografias afecto ao
livro de Luciano Cordeiro (1891). Portanto, para o Período Liberal,
justificam-se os 13 exemplares, por um lado, pela emergente mas ainda fraca
divulgação das Cartas, pelo
analfabetismo reinante (atingia os 70% em 1910) e, quiçá, pela raridade e dificuldade de laboração nas
principais cidades das oficinas tipográficas, pois a crise económica e
financeira é grave, descontrolada, e afecta todos os sectores da sociedade; à
medida que esses factores se invertem, aumenta o número de publicações de todo
o género e, nos escassos dezasseis
anos da I Republica, com uma Grande Guerra de permeio, chegam a 48 as edições,
enquanto nos quarenta e oito anos do Estado Novo somente se editam 85 obras,
proporcionalmente menos do que seria de esperar, pois a tipografia clássica da
zincogravura e dos tipos dará gradualmente lugar ao moderno offset e a censura (palermas)
política, num caso isolado, o das Três Marias e das suas Novas Cartas Portuguesas
(1972-1974), não hostiliza as Lettres, nem Mariana, que aliás lhe interessa
para engrandecer a fachada dos heróis nacionais; porém, com o 25 de Abril, a
abolição da censura, a restauração das liberdades fundamentais a todos os
cidadãos e a expansão de uma livre economia de mercado, crescem as empresas
gráficas, as editoras e dá-se a mediatização rápida dos meios de informação, só
assim se compreendendo os 188 exemplares publicados neste período com vantagem
para os periódicos». In Leonel Borrela, Cartas de Soror Mariana
Alcoforado, Edição 100Luz, 2007, ISBN 978-972-99886-7-7.
Cortesia
de 100Luz/JDACT