«Estes embaixadores do rei de Portugal que então tinham chegado a Florença
vinham saudar o cardeal Jaime de Portugal, em cujo séquito se encontrava Fernando
Martins, que está registado no testamento do mesmo cardeal Jaime, que ali veio
a falecer a 27 de Agosto de 1459. Fernando Martins (de Reriz) nasceu em 1423,pois em 1483 tinha 60 anos, pelo que, nos
momentos nevrálgicos da sua vida que aqui consideramos, tinha 36 anos em 1459 e
51 anos em 1474. Dele sabemos que foi
mestre em Artes e Medicina, além de bacharel em Teologia, tendo vivido
muitos anos em Itália onde foi familiar ou criado do cardeal Jaime, com quem
estava em 1459, tendo ainda sido médico e familiar do cardeal, filósofo e
cientista Nicolau de Cusa (1405-1464), de cuja renovação do testamento a 6 de
Agosto de 1464 foi testemunha, juntamente com o seu amigo Toscanelli.
As indicações iniciais da carta escrita a 25 de Junho de 1474 por
Toscanelli apontam para a realização do colóquio em Florença em Julho de 1459,
no qual se trataram de assuntos relativos à via mais rápida para chegar às
Índias das especiarias, constituindo-se assim um dos elos mais esclarecedores ligados
aos embrionários projectos henriquinos para chegar a Índias que podiam ser não
apenas as etiópicas mas também locais mais longínquas onde havia especiarias,
as quais são apontadas por Toscanelli como sendo as procuradas pelos
portugueses.
No sentido de equacionarmos de forma adequada a problemática aqui
considerada é necessário atentar desde início e com todo o cuidado na
valorização e esclarecimento da afirmação que motiva e introduz a matéria
tratada na carta de Toscanelli:
- Cum tecum allias locutus sum de breviori via ad loca aromatum per maritimam navigacionem quam sit ea quam facitis per guineam que traduzimos: Falei contigo em outras ocasiões acerca de um caminho mais rápido para chegar aos lugares da especiaria por navegação marítima do que aquele que fazeis pela Guiné.
Esta declaração revela-nos que estamos perante um assunto que não era
novo em 1474, pois já havia sido abordado em outras ocasiões em que Fernando
Martins e Toscanelli falaram acerca de um caminho mais rápido
para chegar aos lugares da especiaria. É por isso que foi utilizado o
recurso ao plural para se aludir a que tinham acontecido vários momentos em que
esse debate surgira. Um desses momentos foi aquele que ocorrera quinze anos
antes, em Julho de 1459.
As informações de Conti sobre o Oriente foram também utilizadas no
mapa-mundo começado em 1457 pelo cartógrafo veneziano Fra Mauro e
concluído em 1459 com a colaboração de Andrea Bianco, obra que foi iluminada
por
Francesco de Cherso. Este trabalho foi encomendado em 1456 através de João
Fernandes Silveira, embaixador português que a 4 de Fevereiro deste ano esteve
em Veneza a tratar da participação portuguesa na cruzada contra os turcos, que
então se estava a organizar.
O mapa aqui em causa foi solicitado oficialmente por Afonso V mas certamente
a pedido do infante Henrique, pois não há registo de que o rei se interessasse
por problemas geográficos que ultrapassem os relacionados com o seu empenho em
conquistar Marrocos, receber alguns proventos dos negócios da Guiné dirigidos
pelo tio e participar na cruzada que chegou a ser prevista em 1456. A sugestão
para a realização desta encomenda cartográfica a Fra Mauro poderia ter
vindo de Cadamosto ou Patrizio di Conti que se encontravam
próximo do infante, pois não seria natural que este conhecesse aquele
cartógrafo, a quem não chegaria sem uma recomendação daqueles venezianos das
suas relações entre 1454 e 1456». In José Manuel Garcia, D. João II vs
Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012, Vila
do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.
continua
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