sábado, 19 de janeiro de 2013

Poesia. Chamusca. Maria Manuel Cid. «Talvez que eu parta chorando da terra que me criou, ou então de quando em quando minh'alma volte cantando na voz de quem me cantou...»



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A Sombra dos Teus Desejos
Ai que bom, que bom seria,
ter morrido nesse dia
e não ter de recordar!
Vieste dizer-me adeus
sem pôr teus olhos nos meus...
Partiste p'ra não voltar...

Vive meu corpo sozinho,
dobrado sobre o caminho,
onde meu sonho morreu;
dei-te o amor mais profundo,
tudo o que tinha no mundo...
Fiquei mais perto do céu...

Meus olhos choraram tanto,
ficaram secos de pranto,
tristes, pesados e baços...
Sinto o sabor dos teus beijos,
a sombra dos teus desejos,
mais o calor dos teus braços...

Tu levaste a minha vida
e ficaria perdida
se a tens deixado comigo;
porque a matéria não pensa,
qu’importa a tua presença?!...
Minh’alma vive contigo…


Talvez que eu parta chorando
Da terra que me criou,
Ou então de quando em quando
Minh'alma volte cantando
Na voz de quem me cantou...


Vou Pegar Esta Corrida
Acompanha-me Senhor
com piedade e amor,
dai-me pois a tua mão,
vou pegar esta corrida
guarda Senhor minha vida
Quinta-Feira d'Ascensão...

Sou destemido, sou forte,
e mesmo que não m'importe
na cara dum toiro morrer,
tenho mãe que chora ausente
tenho pai que por mim sente
o coração a bater...

Assim rezo aos pés da cruz,
e dela me vem a luz
a coragem que me obriga
esta minha alma pequena
a pisar terra d'arena
em quinta-feira d'espiga...
Poemas de Maria Manuel Cid, in ‘Poemas

Poemas, Obra Completa de Maria Manuel Cid, Autoria de Maria Manuel Cid, MG Editores, Edição de Maio de 1999, ISBN 972-8471-19-X. 

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