Poesia I, 1944
Apesar das ruínas e da morte,
onde sempre acabou cada ilusão,
a força dos meus sonhos é tão forte,
que de tudo renasce a exaltação
e nunca as minhas mãos ficam vazias.
Noite
Mais, uma vez encontro a tua face,
ó minha noite que eu julguei perdida.
Mistério das luzes e das sombras
sobre os caminhos de areia,
rios de palidez em que escorre
sobre os campos a lua cheia,
ansioso subir de cada voz,
que na noite clara se desfaz e morre.
Secreto, extasiado murmurar
de mil gestos entre a folhagem,
tristeza das cigarras a cantar.
Ó minha noite, em cada imagem
reconheço e adoro a tua face,
tão exaltadamente desejada,
tão exaltadamente encontrada,
que a vida há-de passar, sem que ela passe,
do fundo dos meus olhos onde está gravada.
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