NOTA: De acordo com o original
Christovam Colombo. O Descobrimento da America
Primeira Gonferencia. 17 de maio de
1891
«Subindo hoje a esta tribuna
que, ha cerca de dous annos, conserva-se muda, deserta, abandonada, e relanceando
os olhos pelo auditório no intuito de comprimental-o, e agradecer-lhe o comparecimento,
assalta á meu espirito uma idéa triste, confrange-se-me o coração com uma dolorida
reminiscência. Noto a falta de um grande patriota que desde o começo e durante muitos
annos seguidos honrou sempre estas conferencias, animando os oradores com sua presença,
incitando os ouvintes com suas palavras, áquelles pedindo a perseverança no trabalho,
a estes aconselhando concorressem afim de se alcançarem resultados vantajosos e
profícuos aos estudos scientificos e litterarios. Refiro-me a Pedro II, que ora,
ingratamente expellido da pátria, sente decerto ainda bater-lhe o coração de saudades
por ella, e faz votos ardentes pela sua felicidade e futuro.
Pago este tributo de gratidão,
prestada uma homenagem devida de respeitosa saudação, passo a tratar do assumpto
annunciado para nossa conferencia de hoje, appellando, como em outras occasiões,
para a vossa benevolência. Sorriu-me esta idéa com a leitura dos annuncios publicados
em periódicos de varias nações. No próximo anno de 1892 celebrar-se-ha
o quarto centenário do descobrimento da America. Achamo-nos na America, somos Americanos,
porque nos não recordaremos de época tão memorável!
Para que se comprehenda,
porém, a historia do descobrimento da America, necessário nos é começar pelo estudo
da situação social, politica, económica, scientifica ,e litteraria da Europa durante
o século XV. Sahia da edade média, penetrava na da renascença, e passava por extraordinárias
evoluções. Cahia a feudalidade, isto é, o domínio despotico, brutal e caprichoso
de fidalgos, senhores de castellos, de cidades, de vastos territórios, tanto leigos
como ecclesiasticos e que, independentes dos chamados reis e imperadores, victimavam
os povos residentes em suas terras e sob seu jugo.
Elevava-se sobre as ruinas
do feudalismo o poder illimitado dos monarcas, que começavam a governar nações maiores
e mais unidas: apparecia já também á tona d’agua, reclamando liberdades civis, a
classe média e popular, que até então existira esmagada e submettida. Desenvolvia-se
a industria e o commercio; propagava-se a instrucção que estava monopolizada nos
claustros, privativa quasi dos representantes da egreja christã qae succedera ao
antigo culto do polytheismo pagão.
Occupava-se, todavia, toda
a Europa em guerras ou intestinas ou externas: Itália era presa de estrangeiros;
França lutava com Inglaterra, unida á Bourgonha e Bretanha; Allemanha fazia e desfazia
imperadores nominaes; Hespanha brigava com Árabes e Mouros, ainda donos de parte
de seu solo, e repartia-se também em vários estados christãos independentes. O império
grego de Constantinopla estorcia-se em paroxismos diante das invasões e victorias
dos Turcos asiáticos, que o assaltavam de continuo.
Nenhuma nação possuia então
marinha militar propriamente dita e apenas exércitos, dando-se as grandes batalhas
e praticando-se as excursões bellicas em terra e só em terra. Havia, porém, em um
canto da Europa, o mais Occidental, banhado pelo Atlântico, um povo pouco numeroso,
mas guerreiro. Firmara na batalha de Aljubarrota por uma vez sua nacionalidade apoz
três séculos de separação e tal qual independência do resto das Hespanhas». In J.
M. Pereira da Silva, Conferências Públicas, propriedade do Instituto Histórico
e Geographico Brazileiro e Academia Real de Sciencias de Lisboa, Brazil, Rio de
Janeiro, Imprensa Nacional, Library University of California, 1892.
continua
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