sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Nos Confins da Idade Média. Arte Portuguesa. Séculos XII-XV. Evolução Política. Humberto Moreno. «Em particular deve-se referir o documento de 909 que utiliza na sua linguagem a expressão ‘confins do Minho’, aplicável à região minhota e ‘confins do Douro’, designando a região duriense»

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Evolução Política
«Quando Afonso III de Leão (866-910) estendeu o domínio das armas cristãs em direcção ao rio Douro, dando a seguir início a uma intensa acção repovoadora, notam-se desde logo algumas diferenças entre as terras propriamente galegas e aquelas que se situam nos confins do rio Minho. Essa diferenciação detecta-se sobretudo através de alguns documentos em que os seus redactores denominam as terras localizadas ao sul do rio Minho por regiões extremas de Galiza. Em particular deve-se referir o documento de 909 que utiliza na sua linguagem a expressão confins do Minho, aplicável à região minhota e confins do Douro, designando a região duriense.
Com a política restauradora de Afonso III de Leão na qual se insere a presúria do Porto em 868 levada a efeito pelo conde Vimara Peres, está-se perante uma nova fase na constituição do território portucalense. Portucale localizada unto à foz do rio Douro representa um ponto de irradiação na segunda metade do século IX, dando origem a uma área territorial que se dirige para norte até ao rio Ave e para sul no sentido do Vouga. Os limites desta área confinam com os territórios de Braga, Lamego, Viseu e Coimbra. Simplesmente verifica-se a tendência de designar por terra portucalense ou terra de Portugal todas as circunscrições atrás mencionadas. Assim, logo no início do ano mil estamos perante um condado designado por Portucalense.
Á família condal portucalense, à frente de cujos destinos se encontra Mendo Gonçalves, era aparentada com os monarcas leoneses. Por linha hereditária até à quinta geração permanecem ao leme do condado, sendo afastados quando o rei de Leão, Fernando Magno, realiza uma política centralizadora e burocrática que se traduz na nomeação de meirinhos e infanções.
O monarca leonês assume o título de imperador de Espanha e tira partido da dissolução do califado de Córdova, que se fragmenta em reinos (taifas), para impor o domínio cristão até ao rio Mondego. Na sequência da conquista de Coimbra, entrega o governo da circunscrição ao moçárabe Sesnando. Por decisão testamentária deixa aos seus filhos Afonso, Sancho e Garcia os reinos de Leão, Castela e Galiza. No fragor das guerras fratricidas que se seguem à morte de Fernando o Magno, o território portucalense segue o partido de Garcia, o qual foi derrotado por Sancho. Este por seu turno foi assassinado durante o cerco de Zamora, o que teve como consequência que o poder viesse a concentrar-se em Afonso VI (1072), o qual se encontrava refugiado em Toledo, na corte do rei árabe Almamum.
Em 1082 o rei Afonso VI procede a uma restruturação do condado portucalense. Para norte situa-se além do rio Lima, enquanto para sul não ultrapassa o Mondego. Fora dos seus limites encontram-se os territórios de Coimbra e de Viseu.
Com a entrada de Afonso VI, em Toledo (1085) proclama-se o monarca soberano dos homens das duas religiões. Aberto o caminho para a conquista das taifas, os reis de Granada, Sevilha e Badajoz pedem auxílio aos almorávidas. Estes oriundos do Saara pautavam a sua visão do islamismo por uma atitude fundamentalista nada consentânea com o posicionamento dos hispano-muçulmanos.
Dirigidos por Iúçufe desembarcaram os almorávidas em Algeciras. Daqui seguiram em direcção a Badajoz. Entretanto Afonso VI levantou o cerco de Zaragoça e partiu ao encontro das tropas muçulmanas aliadas. O combate deu-se em Zalaca (1086) dele resultando uma terrível derrota para os cristãos. Desenhava-se o espectro duma retirada destes para as montanhas cantábricas não fora o acaso do falecimento inesperado do filho do chefe almorávida, que o obriga a regressar a Marrocos.
Em 1087 deu-se o grande afluxo dos exércitos europeus que ao abrigo da cruzada de Ocidente pregada pela Santa Sé se dirigiram para a Península Ibérica. Sob o comando de Eudo, duque de Bragança, vem o conde Raimundo, o qual casa com D. Urraca, filha de Afonso VI. Ignora-se se o conde Henrique teria vindo na mesma altura. Em 1095 este sobrinho de S. Hugo, abade de Cluny, aparece-nos consorciado com D. Teresa, filha ilegítima do monarca castelhano.
Em l094 os almorávidas voltam a atacar. Assustados com a sua intransigência os taifas muçulmanos pactuam com Afonso VI e entregam-lhe os castelos de Santarém, Lisboa e Sintra. Ao procurar impedir o isolamento de Toledo o rei cristão confia a Raimundo a defesa do Tejo desde Badajoz até Lisboa. Este fidalgo mostra-se impotente para impedir o avanço almorávida, cuja investida chega a ameaçar Coimbra. Face ao descalabro Afonso VI repensa a estratégia e encarrega Henrique de deter o avanço inimigo. O bom êxito da sua missão irá ser coroado com a doação do condado portucalense, também em boa medida resultante do casamento com a sua filha.
Apesar da subordinação do conde Henrique ao sogro vislumbram-se no seu comportamento manifestações de autonomia. Em estreita aliança com o arcebispo de Braga procura libertar-se da tutela da diocese de Santiago. Com aquele prelado chega a empreender uma viagem a Roma para colocar as dioceses de Coimbra, Lamego e Viseu na dependência bracarense. A existência duma igreja nacional seria um passo importante para alcançar a independência». In Humberto C. Baquero Moreno,
Evolução Política, Nos Confins da Idade Média. Arte Portuguesa. Séculos XII-XV, Instituto Português dos Museus, Porto.1992.

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