Iugures
Ao negro mar ressoante possas tu chegar.
Possas chegar e três vezes abrir a porta negra.
Ao ressoante mar amarelo possas tu chegar.
Pela tempestade amarela que sopra possas tu chegar.
Possas chegar montado num cavalo amarelo.
Empunhando um dardo amarelo possas tu chegar.
Possas chegar ao ressoante mar vermelho.
Pela tempestade vermelha que sopra possas tu chegar.
Possas chegar com as mãos cheias de preciosas pedras vermelhas.
Vestido de bárbaros couros vermelhos possas tu chegar.
Pigmeus
O animal corre, e passa, e morre. E é o grande frio.
É o grande frio da noite, é a escuridão.
O pássaro voa, e passa, e morre. E é o grande frio.
É o grande frio da noite, é a escuridão.
O peixe nada, e passa, e morre. E é o grande frio.
É o grande frio da noite, é a escuridão.
O homem come, e dorme, e morre. E é o grande frio.
É o grande frio da noite, é a escuridão.
Acende-se o céu, apagam-se os olhos, resplandece a estrela.
E aqui em baixo é o frio, e lá no alto é a luz.
Passou o homem, desfez-se a sombra, libertou-se o cativo.
Vem, espírito, vem. Por ti chamamos.
O filho foi ver aos pomares
se as frutas estavam maduras.
Maduras já estavam as frutas.
Erram no mundo os espíritos.
É o tempo.
É a noite que agora começa.
Livre agora está o cativo.
O filho partiu agora.
Foi libertado o cativo.
Caminha na outra margem.
Olhos fixos, em frente, olhando.
Partiu.
Já se não volta para trás, olhando.
A sombra roçou na parede da cabana.
Passou uma centelha.
Como o pirilampo que gira,
o fogo voa em torno das palmeiras.
Poemas de Herberto Helder, in “As Magias”
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